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Imagem: Gilvan de Souza/Flamengo

O país da cera também gosta de um esporte: vencer

O "jogo do ano" no Campeonato Brasileiro frustrou expectativas e mostrou mais uma vez que precisamos repensar a qualidade do jogo no país.


Vinícius Grissi

Esporte

Comentarista Esportivo


A balança entre expectativa e realidade pendeu para o lado da frustração no último fim de semana. O esperado "jogo do ano" no Campeonato Brasileiro acabou se tornando mais uma partida chata e cheia de características irritantes do futebol que escolhemos jogar por aqui. Menos de uma hora de bola rolando (54 minutos) e 41 faltas marcadas (uma a cada 80 segundos). Entre o apito do árbitro para parar e reiniciar o jogo, muitas reclamações, empurra-empurra, atendimentos médicos. Os dois melhores times do país proporcionaram muito pouco. Decepcionante.

Após o jogo, Hulk reclamou da cera praticada por Diego Alves. Mais justo foi Cuca, que na entrevista coletiva, ao criticar o goleiro do adversário admitiu que é uma prática recorrente no futebol brasileiro. A "lesão" do goleiro do time que está vencendo quando faz qualquer defesa já deveria ser tema de estudo da medicina esportiva do "país do futebol". Se o placar estivesse invertido no Maracanã, provavelmente seria Éverson o alvo das reclamações.

Toda essa discussão é fruto de outra que já foi abordada neste espaço e que merecia ser mais aprofundada por todas as figuras do meio. O Brasil está longe de ser o país do futebol. Gostamos mesmo é de ganhar, seja como for. Por isso, deixamos de lado discussões mais importantes para melhorar a qualidade do produto entregue diariamente na TV e nos estádios.

Podemos começar pela cera e pelo excesso de faltas. Aí, vamos esbarrar na arbitragem. A da edição 2021 do Campeonato Brasileiro está entre as piores dos últimos tempos, mesmo com o VAR para auxiliar. Mas a quem interessa a discussão sobre a profissionalização dos árbitros? Se eles forem muito bem treinados, em quem vamos colocar a culpa após cada derrota e tropeço?

Daí em diante, a discussão pode chegar ao calendário. Problemático para todos, mas pouquíssimo debatido a sério pelos envolvidos. Todo ano os clubes reclamam das convocações na data-FIFA mas não buscam soluções práticas para resolver de fato o problema. O calendário para 2022 vai manter as datas para os estaduais e espremer campeonatos ao longo do ano já que teremos Copa do Mundo no fim da temporada. Todos já conhecem os problemas, mas nenhuma mudança foi preparada nem pela CBF nem pelos clubes.

Podemos falar também dos péssimos gramados. O Maracanã, que já foi alvo de críticas do técnico Tite, mais uma vez também teve papel importante na qualidade ruim do principal jogo do Campeonato Brasileiro. Ontem, em conversa com o técnico do Tombense, Rafael Guanaes, que conseguiu o acesso para a Série B na próxima temporada abordamos o tema no Arena 98 e ele disse sobre as dificuldades de manter as ideias em estádios que não oferecem as mínimas condições para a prática do futebol.

Conhecemos os problemas. Clubes, técnicos e jogadores apontam para eles semana após semana, depois de cada derrota. Mas reconhecer não basta. E resolvê-los nos tira a possibilidade de encontrar outro culpado pelos próprios erros. No fim das contas, no país da cera, o nosso esporte preferido é vencer jogos. Futebol fica em segundo plano.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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