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Imagem: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Quem explica a paixão do torcedor?

Mesmo maltratado, o consumidor do futebol sempre volta e dá demonstrações de amor impossíveis de entender


Vinícius Grissi

Esporte

Comentarista Esportivo


Logo mais, por volta das 17 horas, o trânsito na região da Pampulha já estará insuportável. O torcedor que mora longe do Mineirão e quiser assistir Atlético x Corinthians vai precisar abandonar o trabalho, a escola ou alguma outra ocupação no meio da tarde para ir ao estádio. Depois de enfrentar o caos no seu carro ou no transporte público, terá pela frente as longas filas para entrar. Lá dentro, provavelmente encontrará outros torcedores sem máscara e com exames fraudados, pouca organização, dificuldade de atendimento nos bares. Mas o atleticano estará lá lotando as cadeiras para acompanhar mais um jogo que pode deixar o time ainda mais perto de encerrar um jejum que dura mais de 50 anos. O amor ao clube e a oportunidade de ver de perto um time histórico bastam.

Ontem, quase 35.000 pessoas se aventuraram no mesmo estádio e encararam os mesmos problemas. Provavelmente nenhum torcedor foi tão maltratado nos últimos dois anos e meio como o cruzeirense. Faltando quatro rodadas para o fim da segunda temporada na Série B, em 14º lugar, sem nenhuma chance de acesso e só agora figurando entre os 10 primeiros colocados, uma remotíssima chance de rebaixamento para a terceira divisão. O jogo contra o Brusque valia pouquíssimo, mas ainda assim a torcida celeste estava lá. Não pela importância da partida, por merecimento do time, para aplaudir a campanha. Ainda assim, cantaram e festejaram como fizeram nos melhores tempos do clube. Ser cruzeirense bastou para eles.

Para o bem e para o mal, não há como perder tempo explicando o que move o sentimento de um torcedor, seja de qual clube for. A paixão cega que faz ele ser incapaz de enxergar que ainda são os reflexos da pandemia que causam a dificuldade operacional do Mineirão para receber carga máxima em dois dias consecutivos é a mesma que o leva até a arquibancada sem motivo aparente. A doença passional que faz adultos obrigarem uma criança a pedir desculpa na rede social por ter ganhado uma camisa do rival é a mesma que faz alguém comprar um ingresso mesmo sabendo tudo que terá que enfrentar para assistir a um jogo.

O torcedor, que tanto fez falta nestes quase dois anos de portões fechados por conta da pandemia, voltou com tudo. Num momento em que muito se fala na profissionalização tardia dos clubes com a aprovação da SAF, entender a relação com o seu principal consumidor é fundamental para saber o que leva alguém a investir em empresas tão perto da falência. O torcedor brasileiro apanha mas volta. Um cliente assim é o sonho de qualquer negócio. Imagina se eles fossem tratados de uma maneira melhor?

Que nos próximos meses, com a retomada da normalidade nas cidades e nos estádios, os clubes possam se preocupar mais em cuidar do seu torcedor. Melhorar a experiência, facilitar o acesso, aumentar a sua participação. Em todas as camadas. E aí quem sabe ninguém mais precise buscar explicações para uma inexplicável paixão. Ela pode fazer sentido e deve ser assim, como em todos os amores.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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