Economia

  1. Notícias
  2. Economia
  3. Brasil, um país em obesidade mórbida
Imagem: iStockphoto.com / Reprodução

Brasil, um país em obesidade mórbida

O aumento dos juros e seus efeitos colaterais na economia


Samuel Barbi

Notícias

Especialista em economia, entra ao ar às segundas-feiras com a coluna MundoZFundos, no RádioCast 98


O Brasil é um obeso que não quer ser saudável. Seus exames de colesterol e triglicérides apontam que são necessárias ações imediatas para corrigir seu estado de morbidez. Entretanto, nosso querido país prefere não seguir as recomendações médicas e continuar se alimentando mal, evitando exercícios físicos e empurrando as decisões importantes com a barriga. Prefere apenas tomar alguns remédios contra seus males, sem tratar as reais causas de sua enfermidade.

Algumas semanas atrás expliquei porque os juros estão e (devem continuar) subindo. E não deu outra, esse processo continua ocorrendo, sendo divulgado no último dia 24 de novembro de 2021 mais uma alta de 1,5 ponto percentual, elevando a Selic de 6,25% para 7,75% ao ano. E pode ter certeza que não vai parar por aqui. As previsões de juros futuros já passam dos 12% ao ano.

A obesidade de nosso país é causada pela instabilidade política que passamos. Os constantes desequilíbrios e irresponsabilidades fiscais (gasto público excessivo) são especialmente alimentados por nosso processo eleitoral. É mensalão, rachadinha, pedalada, calote nos precatórios, discussões visando o aumento dos valores do fundo eleitoral, furo de teto de gastos, emendas parlamentares, uma série de instrumentos para elevar o apetite de quem deveria estar fazendo dieta. A situação vai se agravando. Dentre as 40 maiores economias do planeta, nossa inflação só perde para Turquia e Argentina

Tal falta de credibilidade empurra o dólar para cima, contaminando preços cotados internacionalmente, como de combustíveis e de produtos importados. Ou seja, mais inflação.

A taxa básica de juros da economia, Selic, é o principal remédio que temos para conter esse processo. É como um genérico contra o colesterol, certamente vai diminuir o risco de um ataque cardíaco por um tempo. Entretanto, se as causas da doença permanecem, a dose aplicada terá que ser cada vez maior, agravando-se os indesejados efeitos colaterais: desemprego e baixo crescimento econômico. Frente a um maior custo de capital, as empresas suspendem os seus investimentos. O país vai voltando a ser um paraíso para a renda fixa e um inferno para empresários e trabalhadores.

O Banco Central faz o que pode fazer, aplica o remédio amargo que tem em mãos. Governo federal e congresso nacional, por sua vez, permanecem interessados no fast food populista e eleitoreiro, não querem nem passar pela porta de uma academia (melhorar a qualidade do gasto público) ou iniciar uma necessária dieta fiscal (reformas estruturantes). O risco cardíaco se eleva a cada dia, bem como o de uma overdose de juros se aproxima.

Todos sabem o que fazer para sair da obesidade e galgar uma condição mais saudável. No entanto, nem todos estão dispostos a pagar esse preço. Na política e na economia é a quase a mesma coisa. É mais confortável continuar comendo mal e sentado no sofá. Fazer dieta é um saco, ir pra academia cansa. Ainda mais que quem vai acabar morrendo do coração não são os próprios políticos que conduzem o país, mas sim o povo brasileiro.

 ·         Ficha Técnica: Brasil;

·         Moléstia: Obesidade Mórbida;

·         Causas: Crise política e agravamento da situação fiscal;

·         Remédio: Elevação das taxas de juros – doses cada vez maiores, administradas pelo Banco Central;

·         Efeitos Colaterais: Desemprego e baixo crescimento econômico;

·         Cura: Reformas no estilo de vida, para desenvolver hábitos saudáveis, como dieta de impostos, prática regular de responsabilidade fiscal e estabilidade política. Isto é, reformas estruturantes para ingerir menos impostos e gastar o dinheiro público adequadamente.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
Colunistas

Carregando...


Saiba mais