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Imagem: Atlético / Instagram / Reprodução

Elas nos estádios

Futebol sem assédio: não é não!


Nely Aquino

Notícias

Vereadora pelo Podemos, presidente da Câmara Municipal de BH em seu 2º mandato. Fundadora do Projeto Rumo Certo.


A ótima campanha do Clube Atlético Mineiro, o “Galão da Massa”, prestes a conquistar o título de Campeão Brasileiro de 2021, tem lotado o estádio do Mineirão após a liberação das torcidas. As partidas têm sido festejadas por homens, mulheres e crianças nas arquibancadas do gigante da Pampulha.

 Mas nem tudo é festa. Nas últimas partidas, lamentáveis episódios de importunação sexual a mulheres foram relatados. Os casos vieram à tona após os jogos contra o Grêmio e o Corinthians, quando dois boletins de ocorrência foram registrados na Polícia Militar pelo mesmo crime.

Infelizmente, os episódios não são novidade no futebol brasileiro. A cultura equivocada de que mulher não gosta de futebol e de que estádio não é coisa de mulher contribui para que o público feminino se afaste dos campos. Além da falta de incentivo no ciclo social das mulheres para irem aos jogos, os estádios não garantem segurança e estrutura para combater o assédio.

Em muitos estádios brasileiros, a infraestrutura é tão precária que faltam instalações sanitárias adequadas, como banheiros femininos em número suficiente, com iluminação e espaços que possibilitem a presença de bebês e crianças. O machismo nos estádios vai além e atinge também as mulheres profissionais do mundo da bola, como jogadoras profissionais, técnicas de equipe de futebol profissional, assistentes de arbitragem e jornalistas esportivas.

A popularização do esporte no início do século 20, aliada à ideia de que o futebol era pouco adequado aos padrões de feminilidade e a proibição da prática para as mulheres no país em 1941 (art.54 – Decreto-Lei nº 3.199/41), contribuíram para que, aos poucos, elas passassem a ser figuras raras nos estádios. Com o fim da proibição, em 1979, e com mais debates sobre igualdade de gênero, aos poucos as mulheres voltaram aos estádios brasileiros e a participação delas tem aumentado.

Uma pesquisa realizada pelo Ibope Repucom, apontou que 12% do público que frequentou estádios de futebol no ano de 2019 (porque em 2020 não houve público) foram de mulheres. A mesma pesquisa aponta que o número de mulheres interessadas pelo futebol vem aumentando progressivamente (Ibope, 2019).

Mesmo com o crescimento significativo do público feminino nas arquibancadas, a predominância masculina ainda se faz presente. O bom é saber que, desde 2018, está em vigor a lei federal 13.718, que caracteriza o crime de importunação sexual, bem como a pena prevista e os atos que podem resultar em aumento da pena. O dispositivo cria um novo crime, basta que as mulheres não se calem, denunciem e não deixem de frequentar os espaços que quiserem. Quem sabe assim os machistas mais abusados entenderão que “não é não”!

Sobre os casos ocorridos no Mineirão, o Clube Atlético Mineiro manifestou repúdio aos casos de importunação sexual registrados nos jogos e que irá atuar de forma contundente junto às autoridades e à segurança do estádio, no sentido de coibir essa prática e exigir punição aos infratores (Nota publicada em 12/11/21).

O estádio Mineirão informou que já entregou à polícia as imagens do circuito interno de vigilância para a apuração dos fatos relatados pelas torcedoras. O estádio também cita em nota que promove a ação 'Deixa Ela Trabalhar', pregando respeito às mulheres jornalistas, e mantém a hashtag da campanha (#deixaelatrabalhar) exposta na tribuna de imprensa.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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