Sim, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem muitas ações importantes para julgar e os ministros deveriam focar energia em ações que, de fato, tragam mudança e Justiça, pacificação social. Mas, o STF é o guardião da Constituição da República e é dele a atribuição de julgar sobre quais leis ou artigos de leis que são considerados inconstitucionais.
Por isso é que a ação que questiona a suposta inconstitucionalidade da lei 11.705/2008, conhecida como Lei Seca, aguarda julgamento no Supremo.
Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) a lei apresentaria diversos problemas, inconstitucionalidades e tiraria o foco de outras causas e políticas públicas importantes que deveriam ser tratadas urgentemente a fim de combater o absurdo número de acidentes e mortes no trânsito.
A última estatística divulgada pelo Portal do Trânsito dá conta que no Brasil, quase 28 mil pessoas morreram entre janeiro e outubro de 2020. O país está entre os dez primeiros com maior número de mortes causadas por acidentes nas ruas, estradas e rodovias.
Ao contrário do que afirma a Associação, a lei não é um “salvo-conduto para que as autoridades deixem de cuidar de campanhas de educação, da segurança nas estradas, de diversos outros problemas que causam mortes no trânsito”.
Infelizmente, o cidadão tende a fazer o que é certo quando dói no bolso. A Lei Seca veio para pôr limites em “motoristas” que não tem consciência ou não estão nem aí para as consequências de dirigir embriagado. É aquela velha história: quem bebe e dirige não quer causar acidente, mas sabe que os riscos são maiores. Então… “não quero matar ninguém no trânsito, mas não vou deixar de tomar uma no fim de semana e dirigir. Se o acidente acontecer… “ (completem a frase).
Fato é: muita gente só se conscientiza sobre os riscos de associar bebida e volante, após perder um ente querido em acidente de trânsito causado por motorista bêbado.
A Abrasel ainda argumenta que a referida lei seria inconstitucional e ineficiente porque o fato da fiscalização parar cidadãos, que não tenham sinais de embriaguez, para averiguação limitaria o direito constitucional de ir e vir.
Ora, com todo o respeito, como o sinal de embriaguez pode ser detectado se o motorista não for parado? E outra: liberdade de ir e vir é muito mais que isso. A Lei Seca não impede ninguém de sair de casa. Ela apenas coloca limites naquele motorista que não levou a sério os estudos de legislação para a obtenção da carteira de motorista, por exemplo. A Lei Seca existe para que as pessoas pensem duas vezes antes de dirigir embriagado. Se não for pela consciência de que é importante evitar acidentes, que seja pela dor no bolso.
A Associação ainda pleiteia que a nossa legislação seja semelhante à de países como o Canadá, a Inglaterra, a França e os Estados Unidos, onde não existe a tolerância zero. Será mesmo que estamos preparados para equiparar a nossa legislação à de países de Primeiro Mundo? Acredito que não. É preciso muito investimento em educação de trânsito. É preciso ver que os índices de morte no trânsito reduziram bastante após a Lei Seca.
Imagino que o consumo de bebidas “in loco” deve ter diminuído um pouco após a Lei Seca. Alguns proprietários de bares e restaurantes devem ter pressionado a associação e o caminho encontrado foi esse: argumentar sobre inconstitucionalidades, que a meu ver, não existem.