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Imagem: Reprodução / Internet

Marília Mendonça: a morte trágica que chocou o Brasil e a vivência do luto coletivo

Tragédia envolvendo a cantora lança luz sobre o tema; veja os cinco estágios do luto


Dra. Júlia Khoury

Notícias

Psiquiatra e professora, médica pela UFMG. Psiquiatra pelo Hospital das clínicas da UFMG


Na última sexta-feira (5) nos deparamos com a morte trágica da jovem cantora Marília Mendonça, que se encontrava no auge de sua carreira. A cantora e mais quatro pessoas faleceram após uma queda de avião e deixaram o país em grande comoção.

Durante esses dias, desde o falecimento de Marília, vimos várias pessoas passando pelo processo de luto e ficou evidente que cada pessoa vivencia a perda de uma forma diferente. Algumas pessoas congelam, outras choram muito, algumas têm uma reação paradoxal de risos, outras gritam e se desesperam. A forma de manifestação do luto não tem relação direta com o sentimento de quem o vivencia, mas sim com a personalidade de cada um e com a forma de manifestar a dor e o sofrimento.

Apesar dessas diferenças de manifestação, o processo de luto tende a seguir um padrão quanto aos sentimentos que provoca. A médica Elisabeth Kubler-Ross identificou os cinco estágios do luto pelos quais a maioria das pessoas passam quando estão diante da própria morte ou quando estão vivenciando a morte de um ente querido.

Negação

O primeiro estágio é a “negação”. Nessa fase, o indivíduo tende a negar que está morrendo ou que o ente querido faleceu. 

Raiva

O segundo estágio é a “raiva” que pode ser manifestada contra si ou contra os outros. Nessa fase, a pessoa se revolta por ter que passar pela situação. 

Barganha

O terceiro estágio é a “barganha” ou “negociação”, fase em que o indivíduo tenta “negociar”, fazer promessas ou mudar seu comportamento, na esperança de que isso traga a vida de volta. 

Tristeza

O quarto estágio é a “tristeza” ou “depressão”, fase em que a pessoa entende que não há outra saída e por isso se entristece profundamente. 

Aceitação

Finalmente, no quinto estágio há a “aceitação”, o indivíduo encontra-se resignado, volta a se sentir em paz e aceita o destino.

O que acontece na prática é que, algumas vezes, as pessoas passam muito rapidamente por esses estágios e assim fica difícil de identificá-los. Outras vezes, elas estagnam em uma fase e não conseguem evoluir. Pode acontecer também de a pessoa falecer antes de completar o processo do luto, ou de retroceder para fases anteriores. Algumas pessoas passam por uma mesma fase várias vezes ou oscilam entre as fases ao longo do tempo. 

O importante é entender que cada um se encontra em uma fase diferente e que cada pessoa manifesta a sua fase do luto também de maneira diferente. Por isso, o processo de luto deve ser respeitado e quem sofre precisa ser acolhido sem julgamentos ou críticas.

Luto e a patologia

Em alguns casos, o luto pode se tornar patológico e evoluir para um transtorno psiquiátrico, como a depressão. Existem fatores que aumentam a chance de evolução ruim do luto como: relacionamento muito estreito com o falecido; dependência emocional e/ou financeira de quem faleceu; relacionamento conflituoso com o falecido ou sentimentos ambivalentes com relação a ele; arrependimento por coisas que fez ou falou ou por coisas que deixou de fazer ou falar; predisposição a doenças psiquiátricas; sofrimento mental anterior ao processo de luto, e outros...

O luto também provoca reflexões, principalmente quando a morte acontece de forma repentina, trágica ou em pessoas muito jovens, como aconteceu com a de Marília Mendonça. Começamos a pensar sobre o sentido e a fragilidade da vida, sobre como estamos vivendo, o que estamos fazendo com o nosso tempo, como estamos nos relacionando com as pessoas...Portanto, o luto também pode ser um convite para a mudança do estilo de vida, para rever valores e para ressignificar a existência.

Se o luto estiver causando ideação suicida, comportamentos que geram risco para si ou para terceiros, ou prejudicando a realização das atividades diárias, é necessária a avaliação por um profissional de saúde mental. 

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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