Muito tem se falado sobre os vícios em tecnologias, principalmente sobre a dependência de smartphone. No Brasil, temos uma população de 213 milhões de habitantes e 234 milhões de smartphones, ou seja, uma média de mais de um aparelho por pessoa. Os smartphones possibilitaram o acesso fácil, rápido e em qualquer local à Internet, o que facilitou o acesso à informação e a comunicação entre as pessoas. Além disso, eles são utilizados para quase todas as funções do dia-a-dia, se tornando indispensáveis na vida contemporânea. Entretanto, alguns prejuízos relacionados ao uso abusivo dos aparelhos vêm sendo relatados em todo o mundo e comprovados pela ciência.
Os smartphones funcionam como uma fonte de recompensas imediatas, ativando o centro de prazer do cérebro. As curtidas, comentários e compartilhamentos nas redes sociais são a principal fonte de estímulo para o uso excessivo. Assim, nos tornamos cada vez mais ávidos pelo aparelho, desenvolvendo um comportamento de busca constante e um ritual de checagem regular.
Usamos cada vez mais os smartphones como válvulas de escape, para fugir de sentimentos negativos e para procrastinar atividades longas ou difíceis. O problema é que, como tudo nas redes sociais acontece em uma velocidade muito grande, o nosso cérebro acaba se acostumando com o excesso de estímulos e podemos nos tornar mais imediatistas, impulsivos, impacientes e intolerantes a frustrações. Além disso, vários estudos já identificaram um aumento nos transtornos de ansiedade, depressão, baixa autoestima, insônia, sedentarismo, dores e déficit de atenção em pessoas que fazem uso abusivo dos smartphones. Mas será que esse fenômeno é só um novo hábito adquirido pela contemporaneidade ou pode se tornar um transtorno mental?
Hábitos e vícios são formados por repetição e acabam por se tornar comportamentos automáticos. No entanto, os hábitos (como o hábito de escovar os dentes), geralmente não causam prejuízos, não interferem negativamente na funcionalidade e não geram sofrimento para os indivíduos ou para aqueles que convivem com eles. Além disso, quando temos um hábito, conseguimos não realizar o comportamento quando assim decidimos (por exemplo: se quisermos, conseguimos ficar sem escovar os dentes). Os vícios, por outro lado, constituem comportamentos compulsivos, que fogem do controle e prejudicam o livre arbítrio. Eles causam prejuízos a longo prazo, interferem na funcionalidade (prejudicando o trabalho, os estudos e os relacionamentos interpessoais, por exemplo) ou geram sofrimento. Assim, algumas pessoas podem desenvolver o hábito do uso do smartphone, enquanto outras podem se tornar dependentes.
FOMO - o medo de ficar de fora
A dependência de smartphone ainda não é um transtorno reconhecido pelos manuais e, por isso, não há critérios diagnósticos para essa condição. Entretanto, esse vício já está sendo identificado na prática clínica de muitos países e sintomas característicos já foram evidenciados. O vício em smartphone também é chamado de FOMO (do inglês, Fear Of Missing Out), que se refere ao medo de perder novidades que chegam principalmente através das redes sociais. A população de maior risco para a dependência de smartphone é composta por jovens de 18 a 35 anos, do sexo feminino e que sofrem de outros transtornos mentais.
Como identificar o vício em smartphones
Existem alguns sinais de alerta que indicam um maior risco para a dependência de smartphone:
- Não conseguir se afastar do aparelho;
- ter a necessidade de utilizar o smartphone todos os dias imediatamente ao acordar;
- sentir necessidade constante de olhar para a tela do celular;
- utilizar o smartphone mesmo em situações perigosas ou proibidas (como ao dirigir e em salas de aula);
- sentir-se mal em locais sem acesso à Internet ou quando não está perto do celular;
- reduzir as relações “reais” em detrimento das relações “virtuais”;
- ter recebido crítica mais de uma vez das pessoas ao redor devido ao uso excessivo do smartphone;
- perceber os prejuízos e mesmo assim não conseguir controlar ou reduzir o uso;
- reduzir as horas de sono devido ao uso do smartphone;
- não conseguir realizar refeições sem utilizar o smartphone;
- utilizar o smartphone para combater estados de humor negativos;
- e ter alucinações relacionadas ao smartphone (por exemplo: escutar o toque, sentir a vibração ou enxergar alertas mesmo que esses estímulos não estejam acontecendo).
As pessoas viciadas em smartphone apresentam a maioria desses sintomas, mas existem vários níveis de gravidade dessa condição.
A quantidade de tempo gasto nos smartphones e nas redes sociais nem sempre se correlaciona com o vício, mas as pessoas viciadas aumentam progressivamente a quantidade e intensidade do uso, revelando uma perda de controle e uso compulsivo. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a limitação do tempo diário de telas por crianças e adolescentes. De acordo com os pediatras, crianças de até dois anos de idade não podem usar telas, de dois a cinco anos devem usar até uma hora por dia, de seis a dez anos até duas horas por dia e de onze a dezoito anos até três horas por dia. É importante ressaltar que esse tempo se refere ao uso recreativo, excluindo o tempo de uso para a realização de atividades acadêmicas e laborais.
Como evitar o vício em smartphones?
Além do limite do uso diário, algumas dicas são importantes para ajudar a prevenir e tratar os vícios em smartphone. A principal delas é estimular a realização de atividades incompatíveis com o uso do aparelho, como esportes, artes, dança, jardinagem, culinária...contanto que essas atividades sejam consideradas prazerosas para quem as pratique.
Outra dica é a implementação, na rotina diária, de atividades de relaxamento e meditação, o aumento do contato com a natureza e a implementação de “zonas livres de tecnologia” em casa (como a mesa de jantar).
Você também pode retirar as notificações de tela, usar aplicativos que bloqueiam o uso excessivo do aparelho e colocar o smartphone em outro ambiente quando estiver realizando uma atividade que demande foco e concentração. Nos casos mais graves, é necessário pedir ajuda a um profissional de saúde mental!