Resultados de eleições afetam de maneira relevante o campo dos investimentos, sejam eles em renda fixa ou renda variável. Como nos aproximamos do 2º turno das eleições é importante compreender como o mercado avalia os candidatos e seus planos de governo do ponto de vista financeiro. Como este é um exercício sobre as propostas dos candidatos e da temperatura do mercado, vamos desconsiderar os fatores externos que poderiam impactar seus possíveis mandatos.
Cenário 1: Lula vence
Lula foi presidente entre 2003-2010. Com formação no movimento sindical, apresenta um discurso orientado para a esquerda, entendendo que o papel do Estado na economia deve ser mais ativo. Em busca no site oficial da campanha é possível verificar 3 propostas centrais para a economia, apesar de o candidato não ter apresentado um plano completo de governo:
● IMPOSTO DE RENDA ZERO: Isenção do Imposto de Renda na faixa até R$5mil e desconto para a classe média.
● SALÁRIO MÍNIMO FORTE: Com reajustes acima da inflação para aumentar o poder de compra das famílias.
● BOLSA FAMÍLIA de R$ 600,00 GARANTIDO + R$ 150,00 POR CRIANÇA ATÉ 6 ANOS: Renda garantida para a alimentação dos mais pobres e para girar a roda da economia.
1.1) Institui equipe econômica comprometida com a questão fiscal
No primeiro mandato de Lula, houve um comprometimento com a questão fiscal. A sinalização de Lula em manter e honrar com os contratos e compromissos nacionais foi sinalizada por meio da “Carta ao povo brasileiro”:
Vamos preservar o superávit primário[1] o quanto for necessário para impedir que a dívida interna aumente e destrua a confiança na capacidade do governo de honrar os seus compromissos.
Os resultados econômicos da manutenção de uma política econômica responsável (tripé macroeconômico: câmbio flutuante, meta de inflação e meta fiscal) permitiram credibilidade ao país, viabilizando quedas das taxas de juros, um ambiente mais adequado para investimentos e valorização dos ativos reais.
1.2) Institui equipe econômica descomprometida com a questão fiscal
Entretanto, até o momento, Lula não sinalizou sua equipe econômica, o que levanta consideráveis riscos quanto à sua condução numa eventual vitória. Seu programa de governo fala em isenção de impostos sobre mais de 90% da população (sim, menos de 10% das pessoas ganham mais de R$5 mil mensais), ampliação de salário mínimo e programas de transferência de renda. Isto é, aumento considerável de custos sem clara indicação de onde virão as receitas. A conta parece não fechar, o que é reconhecido até por Henrique Meirelles.
Um mandato nesses moldes teria resultados similares aos do governo de Dilma Rousseff, com impactos catastróficos para a economia, inclusive a possibilidade de taxas de juros explosivas, como as que temos observado na Argentina. Além disso, Lula deve enfrentar dificuldades na aprovação de projetos no Congresso Nacional, que conta atualmente com mais membros de oposição do que da base aliada.
Gráfico Histórico do Índice iBovespa Dolarizado
[1] Superávit primário é o resultado positivo de todas as receitas e despesas do governo, excetuando gastos com pagamento de juros.
Fonte: https://clubedospoupadores.com/ibov-historico
Cenário 2: Bolsonaro vence
O governo Bolsonaro foi marcado por uma bela gestão nas empresas estatais e um Banco Central bastante independente. Mesmo enfrentando cenário de pandemia e a relevante guerra internacional entre Rússia e Ucrânia, as medidas econômicas conseguiram desacelerar a inflação e restaurar os níveis de emprego. A pancada fiscal (limitação de receitas e gastos excepcionais para manejo da pandemia) foram rapidamente revertidos para um superávit primário, passando credibilidade para a economia nacional. Seu plano de governo está estruturado, pode ser acessado neste link, e traz propostas com eixo das propostas para a economia:
(...) o crescimento econômico sustentado no médio e longo prazo que permita a geração de empregos e a renda digna dos brasileiros, com foco no ganho de produtividade, na eficiência econômica e na recuperação do equilíbrio fiscal. A geração de oportunidades de emprego e renda permite que as pessoas possam desfrutar de uma vida digna e ao mesmo tempo contribuam na geração de riqueza coletiva no país.
2.1) Mantém o que observamos no governo 2019-2022
Em uma eventual vitória de Bolsonaro o cenário mapeado é mais previsível. A tendência é a continuidade de Paulo Guedes no Ministério da Economia que, associado a um Congresso mais favorável, poderá ter condições políticas de efetuar reformas mais estruturantes e essenciais para o destravamento da economia nacional, como as Reformas Tributária e Administrativa.
Conclusão
As flutuações políticas afetam a economia e, para investidores, é importante fundamentar as decisões de investimento nas expectativas sobre o futuro do país. Nesse sentido, traço um resumo dos cenários mais prováveis e minha leitura pessoal sobre cada um deles:
● Cenário 1.1 - Favorável para investimentos em renda fixa a curto prazo e renda variável a médio e longo prazos;
● Cenário 1.2 - Desfavorável para investimentos em renda variável no Brasil, com espaço para ganhos em renda fixa;
● Cenário 2.1 - Favorável para investimentos em renda fixa a curto prazo e renda variável a médio e longo prazos.