A maior dor por que já passei foi a perda da minha mãe, em 2020. Ainda que seja o curso natural da vida, creio que nenhum filho está preparado para se desligar de quem o trouxe ao mundo, o limpou, alimentou, vestiu, abrigou, acalentou, transformou em um ser humano independente. Não há dia, após quase três anos, que, em algum momento, eu não pense ou me lembre dela. Se antes com extremo sofrimento, hoje apenas uma saudade dilacerante.
Não consigo imaginar, portanto, pelo que passa um pai, ou uma mãe, diante da perda precoce de um filho - ou uma filha. Aliás, retiro o “precoce”, pois jamais será diferente. E ainda que com idade avançada (há pais que perdem filhos com 50, 60, 70 anos de idade), a dor é a mesma, afinal, a inversão da ordem natural se faz presente; não há temporalidade capaz de amenizar tal ruptura. Jamais esquecerei a frase de um pai que perdeu três filhos em um acidente aéreo: “é uma ferida em carne-viva, que nunca cicatriza”.
As notícias de jovens brasileiros, mortos por terroristas palestinos, nos chegam a cada dia. E a cada rosto e a cada história me transporto para uma realidade paralela que me dilacera a alma: o sentimento da possibilidade de ser colhido por uma tragédia assim. Não consigo, sinceramente, imaginar a minha própria existência a partir da inexistência da minha filha. O pouco - e por pouco tempo - que tento imaginar, é suficiente para me atordoar como se um carro me colidisse o peito a 100 quilômetros por hora.
EMPATIA
Quanto mais próximo de nós, maior o sentimento pela fantasia aterrorizante. É assim que funcionam nossa mente e nossas emoções. A dor dos pais que perdem os filhos diariamente no Brasil, por exemplo, por conta dessa desigualdade social repugnante que nos condena a um país miserável, por acontecer em estratos sociais distantes do meu me revolta, é claro, mas não me atormenta. Como sou judeu, branco e privilegiado (social e economicamente), a identificação com os pais destes meninos é imediata.
Sim, morrem - em número muito maior, inclusive - jovens palestinos. E não por culpa de Israel e dos “judeus malvados”, mas por obra do destino: nasceram em um local dominado por terroristas. Mas repito: a realidade dos pais destas vítimas é distante da minha, e por mais que eu me solidarize com o sofrimento deles, não me toca ao ponto da perturbação. E não! Não estou sendo insensível. Apenas confessando, aqui, a minha incapacidade de empatia plena. Isso me torna, ao contrário do que alguns pensam, humano.
Amigos judeus chegam a nem sequer sentir o que sinto, pois diante da realidade dos fatos, acabam acreditando que as vítimas fatais palestinas e seus parentes vivos “fazem por merecer”. Israel jamais atacou um Estado ou um povo. Sempre foi atacado e reagiu. E isso não é opinião; é fato. Daí a falta de empatia de alguns para com os outros. Mas como os vejo (palestinos) - a maioria, ao menos - como vítimas da tirania fundamentalista islâmica, e não como algozes, sinto por eles também.
ENCERRO
Encerro com outra reflexão: idiotas extremistas no Brasil (atenção: todo fundamentalismo começa com extremismo), que nada têm a ver com o massacre dos judeus - e que não entendem porcaria nenhuma; apenas se informam pelo WhatsApp da tia - trocam ofensas e acusações entre si. Os bolsonaristas atacam os petistas e vice-versa, e todos estão, literalmente, “cagando e andando” para os pais que perderam os filhos, são apenas abutres se alimentando da carniça alheia. Não passam de gente mesquinha, ordinária, medíocre e ignorante. Nada tão diferente, afinal, moralmente falando, dos selvagens terroristas.