Os antidepressivos são medicamentos usados no tratamento da depressão. Essa afirmação é verdadeira, mas é necessário dizer que há vários outros quadros clínicos e psiquiátricos que serão beneficiados pelo uso desses medicamentos.
Costumo dizer que os antidepressivos nem ao menos deveriam ter esse nome, uma vez que a gama de condições que eles podem tratar é tão ampla e vai muito além do tratamento para a depressão.
Dessa forma, a primeira questão a ser esclarecida aqui é o fato de que os antidepressivos podem ser utilizados no tratamento de várias outras condições de ordem psicológica, como o distúrbio obsessivo-compulsivo, os transtornos de ansiedade, o stress pós-traumático, além da insônia e das compulsões. Condições clínicas também beneficiadas pelo uso dos antidepressivos incluem a ejaculação precoce, o bruxismo e a dor crônica/fibromialgia. Portanto, se você recebeu a prescrição de um antidepressivo e tem dúvidas sobre os motivos para tal, vale a pena conversar com o médico a respeito. Em resumo: você não precisa ter um diagnóstico de depressão para que tenha recebido a prescrição de um antidepressivo.
Um segundo ponto que eu gostaria de abordar nesse breve artigo é que, ao contrário dos psicoestimulantes ou dos ansiolíticos da classe dos benzodiazepínicos (aqueles da receitinha azul), os antidepressivos não causam dependência, uma vez que somente fazem efeito quando o estado de humor está alterado ou quando as condições clínicas citadas estão presentes e a sua ação terapêutica resulta do reequilíbrio da perturbação depressiva ou da estabilização daquelas queixas clínicas. O que pode ocorrer é que, após a suspensão dos medicamentos, alguns sintomas que a pessoa tinha anteriormente podem retornar… assim dizemos que a doença ainda estava ativa. Isso não significa que a pessoa estava dependente ao uso de antidepressivos, mas sim que ainda não estava totalmente tratada.
Você pode, então, estar se perguntando: Como é que os antidepressivos atuam?
Os antidepressivos atuam no sistema nervoso central, ou seja, em nosso cérebro, alterando e corrigindo a transmissão neuroquímica nas áreas que regulam o humor. Essa classe de medicamentos aumenta os níveis de neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina, que estão relacionados com as emoções e o humor. Aqui, um novo parêntese sobre mais um fato importante a se conhecer sobre os antidepressivos: o tempo de início de ação desses medicamentos é relativamente lento e os pacientes podem começar a sentir os efeitos positivos somente ao fim de cerca de duas a três semanas.
Existem vários tipos de antidepressivos, que atuam de formas diferentes, e têm também efeitos secundários distintos. Uma vez que existe essa grande variedade de antidepressivos, que atuam de formas diferentes, a escolha do medicamento certo deve ter em conta alguns critérios, por exemplo:
● Os sintomas do paciente
● O biotipo do paciente
● Possíveis efeitos secundários
● O fato de já ter sido usado no passado pelo paciente e ter sido eficaz
● Condições de saúde, como gravidez e amamentação
● Condições de saúde coexistentes crônicas como doença cardiovascular e diabetes.
Em suma, as pessoas não reagem todas da mesma forma aos mesmos tipos de antidepressivos. É preciso ter isso em mente, pois pode ser necessário se utilizar vários fármacos até que se encontre o que melhor se adapte ao paciente. Importante ressalvar ainda que este tipo de fármaco ajuda a tratar os sintomas da depressão, mas não as suas causas. Por esse motivo, o tratamento habitualmente inclui a combinação de antidepressivos com outras terapias.
Um outro questionamento que sempre surge entre os pacientes: Os antidepressivos são sempre eficazes? Os antidepressivos tendem a ser eficazes em pacientes com depressão moderada a severa. No entanto, há situações em que o paciente poderá ter que associar os antidepressivos com outros medicamentos que potencializam os seus efeitos. Em situações em que existe uma doença física ou abuso de álcool ou drogas, os antidepressivos podem não ser tão eficazes sobre os sintomas da depressão.
Como qualquer outro medicamento, também os antidepressivos podem causar efeitos secundários ou colaterais. Estes diferem de acordo com o tipo de antidepressivo utilizado e podem incluir:
● Sentimentos de ansiedade
● Indigestão, náuseas ou dor de estômago
● Diarreia ou constipação intestinal
● Perda ou ganho de apetite
● Boca seca
● Tonteiras
● Insônia
● Dores de cabeça
● Visão desfocada
● Disfunção sexual
● Perda ou aumento de peso
● Arritmia e taquicardia
O uso de antidepressivos geralmente é crônico (geralmente cerca de um ano para um primeiro episódio depressivo) não deve ser subitamente interrompido. Parar o tratamento mais cedo do que o recomendado faz com que a medicação não tenha tempo de atuar e pode causar o reaparecimento da depressão, além de sintomas de abstinência ou parada abrupta da medicação, como:
● Problemas de estômago
● Sintomas semelhantes à gripe
● Ansiedade
● Tonturas
● Convulsões
Atenção: a interrupção do tratamento deve ser decidida pelo médico e feita de forma gradual, reduzindo-se a dose ao longo de algumas semanas, até para se saber o momento certo em que isso deve ser feito e para se evitar os tais sintomas de retirada abrupta da medicação. Para lidar com isso, nós psiquiatras recomendamos fazer o “desmame” do medicamento, ou seja, ao invés de simplesmente parar de usar, ir diminuindo as doses gradativamente. Dessa forma, evita-se o surgimento de sintomas de retirada.
Por fim, é preciso saber que, infelizmente, o efeito dos antidepressivos não é imediato, podendo demorar entre 2 a 6 semanas para que o paciente apresente melhora nos sintomas da depressão.
No entanto, também muito infelizmente, os efeitos colaterais podem surgir já na primeira semana de tratamento, fazendo com que muitas pessoas acreditem que o tratamento não funciona e só faz mal.
Contudo, você precisa saber que se continuar o tratamento, a tendência é que grande parte destes efeitos colaterais sejam temporários e desapareçam, tendo em vista que muitos surgem no momento em que o organismo está se adaptando à medicação. Além disso, os efeitos terapêuticos logo começarão e você poderá ter a certeza de que os antidepressivos estão aí para te reequilibrar e te fazer bem!
Cuide-se sempre e, na dúvida, nunca deixe de perguntar ao profissional que o acompanha.