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Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Leite derramado: política desastrosa implode o setor

Enquanto o volume produzido e vendido aumentou, a receita caiu. Isso significa menos dinheiro por litro produzido


Ricardo Kertzman

Notícias

Empresário, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, discutiu com o obstetra e reclamou do hospital. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração


Depois de literalmente derramado, o governo federal resolveu atuar e aumentar o imposto de importação do leite para o Mercosul. Beleza. Ocorre que o setor nacional enfrentou uma concorrência desleal por todo o ano de 2023, quando os produtores locais operaram com fortes prejuízos, vendendo, muitas vezes, com margem negativa, ou seja, abaixo do custo.

Tudo porque a Argentina (o outro grande exportador de leite para o Brasil é o Uruguai), concedeu fortes subsídios aos exportadores, tornando o produto de “nuestros hermanos” imbatível no quesito preço. Para não paralisar e quebrar de vez, o mercado local foi obrigado a acompanhar o movimento, amargando, como já dito, prejuízos enormes.

Encrenca à vista

Porém, muitos produtores não seguiram o movimento, já que impossibilitados financeiramente, e simplesmente interromperam a produção. Leite não é pão, meus amigos! Não dá para assar, ou não assar, uma fornada de um dia para o outro. Por isso, uma crise de abastecimento se avizinha, e não só. Vem mais má notícia por aí.

Por conta da tributação de 9.5% para o Mercosul, a tendência é de majoração dos preços internos, acompanhando a alta do leite importado, que resultará em preços mais caros ao consumidor. Há quem estime o litro do leite longa-vida a R$ 6, ou mais, nos supermercados. Eis o resultado de uma política tributária desastrada e que - atenção! - não vem de hoje.

Descaso

Em praticamente todos os países, o leite é tratado com especial atenção pelos governos, seja por sua importância interna (abastecimento da população) ou no comércio exterior. No Brasil, infelizmente, costuma-se dar mais atenção a “carros populares de 100 mil reais” do que para um alimento essencial ao desenvolvimento físico e cognitivo de crianças.

Assim, produção menor, preços defasados e concorrência externa mais cara, juntos e misturados, inevitavelmente trarão preços maiores, ou seja, mais dificuldade de consumo, sobretudo para as famílias de baixa renda. E não dará para culpar os “pecuaristas gananciosos”, não. Ao contrário. Basta uma rápida olhada no quadro caótico do setor.

Enquanto o volume produzido e vendido aumentou, a receita caiu. Isso significa menos dinheiro por litro produzido. O leite é a principal commodity da pecuária mineira, com mais de 16 bilhões de reais de faturamento entre janeiro e outubro deste ano. Se não por sua importância para o PIB do País, ao menos por ser um alimento essencial, deveria contar com mais atenção dos nossos governantes. Mas aí seria pedir muito, não é verdade?

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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