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Imagem: Agência Brasil

Sobre chuvas torrenciais, inundações , danos de toda ordem e barragens

Tragédia no Rio Grande do Sul traz lições sobre nossos reservatórios e cursos d'água


Ênio Fonseca

Notícias

Engenheiro Florestal especialista em gestao socioambiental. CEO da Pack of Wolves Assessoria Socioambiental, Conselheiro do FMASE. Foi Superintendente do Ibama, Conselheiro do Copam e Superintendente de Gestão Ambiental da Cemig. Membro do IBRADES , ABDEM, ADIMIN, da ALAGRO E SUCESU


O Brasil acompanha a tragédia acontecida agora no Rio Grande do Sul, quando chuvas torrenciais, associadas a ciclones levou a cheias históricas em especial na Bacia do Rio Taquari, causando uma destruição imensa com dezenas de pessoas mortas e um número elevado de desaparecidos. Em pouco tempo este curso de água passou de uma vazão média de 162 para 9.783 metros cúbicos por segundo.

Esta tragédia observada, é recorrente ao longo do tempo, em vários estados do Brasil, em especial em Minas Gerais, considerada a caixa d'água do País, pelo seu elevado número de cursos de água, que nos períodos de chuva recebem grandes vazões afluentes que abandonam suas calhas principais causando enchentes de grande monta.

Existem milhares de registros de enchentes no Brasil, podendo ser relembrados os ocorridos em Santa Catarina em 1855, em Porto Alegre em 1941, em Caraguatatuba 1967, em Minas Gerais e Espírito Santo em 1979, em Santa Catarina em 2008, no Norte e Nordeste do Brasil em 2009, no Rio de Janeiro e São Paulo 2010 e 2011, em Santa Catarina em 2011 e tantas outras.

As enchentes são fenômenos prioritariamente naturais. Elas são provocadas especialmente por grandes eventos chuvosos, em termos de quantidade e/ou constância. Assim, o acúmulo de água da chuva ( que pode infiltrar no solo, ou escoar ) provoca o transbordamento dos cursos de água. Esse extravasamento é um processo natural nas zonas de inundação dos rios, chamadas de vales fluviais ou planícies de inundação. As enchentes ocorrem de forma periódica, com destaque para as épocas mais chuvosas do ano.

A ação do homem no ambiente potencializa esse fenômeno, pela ocupação desordenada do espaço urbano e rural, pela impermeabilização do solo, pela eliminação da vegetação nativa e pela deposição irregular de resíduos sólidos.

Uma iniciativa positiva do homem foi a construção de barragens ao longo dos cursos de água, que tinham como objetivo combater a falta de água nos períodos mais secos. Depois, com a Revolução Industrial, a necessidade delas aumentou, em razão do crescimento da demanda de água para diferentes finalidades, geração de energia, e para deposição de rejeitos . Com isso, as técnicas para projetar e construir as barragens foram aprimoradas, como é o caso das barragens de concreto.

A primeira barragem de porte que se conhece é a de Sadd-EL-Kafara, construída há 4.800 anos no Egito

As barragens são importantes para que o controle de cheias durante os períodos chuvosos aconteça nas várias regiões do país. Há diversas barragens que são mantidas com essa finalidade, e elas são projetadas levando-se em conta estudos de várias décadas do clima, condições edáficas, vazões ao longo do tempo, e possuem estruturas estravazoras, como comportas e soleiras onde as águas podem passar em situações críticas.

As barragens que atendem a geração de energia elétrica, podem ser a fio d'água, ou com reservatórios. As barragens a fio d'água não conseguem reter volumes significativos de águas afluentes, pois operam de forma simplificada, deixando passar toda a água que chega. Sua capacidade de funcionar como controle de cheias é pequena.

No recente caso do Rio Grande do Sul, a CERAN -Companhia Energética Rio das Antas- opera 3 Pequenas Hidrelétricas a fio d'água, que foram incapazes de reter toda a cheia decorrente das chuvas.

Por outro lado, barragens de grande porte, com reservatório, além de gerar energia, se prestam a auxiliar de maneira robusta no processo de controle de cheias. Os reservatórios são mantidos mais baixos, antes do período das chuvas, e este “vazio”, se presta a acumular a água das cheias.

Em qualquer situação, o gestores de barragens são obrigados ao cumprimento da 

Lei federal 14.066/2020, que determina a implementação operacionalização do Plano de Ação de Emergência (PAE), estabelecido pela Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), que estabelece procedimentos de alerta e comunicação em situações de emergência, como enchentes e rompimentos das estruturas.

É certo que o Brasil precisa da construção de novas usinas com grandes reservatórios. A segurança hídrica, energética  e o controle de cheias agradecerão.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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