“A pandemia tornou claro que esta crise é uma crise das mulheres. (…) o fardo do trabalho doméstico que já era feito, em larga medida, por mulheres, também ganhou outras dimensões, como conciliar a telescola e o teletrabalho. E, no mercado de trabalho, eram, e são, as mulheres as heroínas da sociedade que estão na linha da frente: 75% dos empregos com relevância sistémica são levados a cabo por mulheres, de hospitais a lares, professoras, empregadas de limpeza e lojistas”, declarou Lusa Evelyn Regner, presidente da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade de Gênero do Parlamento Europeu, à agência de notícias portuguesa.
Os dados acima são do Relatório de 2021 sobre a igualdade de gênero na União Europeia, mas que também se encaixa na realidade das mulheres brasileiras. Por aqui, quase 8,5 milhões de mulheres saíram do mercado de trabalho até o terceiro trimestre de 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, a participação feminina caiu para 45,8%, o nível mais baixo em três décadas.
Além das demitidas, muitas tiveram redução de salários e outras que, por necessidade, pediram demissão por não terem com quem deixar os filhos, já que as atividades das creches e escolares também foram suspensas. Foi a nova rotina do isolamento social que obrigou as mulheres a conciliar o trabalho com os cuidados da casa, dos filhos ou de outros dependentes. Sem contar com o aumento da violência doméstica, física ou psicológica, subnotificada em função do isolamento imposto às vítimas.
O confinamento obrigatório tirou a nossa vida dos “trilhos” e causou um impacto negativo na saúde mental de todo mundo. Mas a “dupla-jornada” e a sobrecarga de trabalho, aliadas à perdas financeiras e preocupações familiares, geraram ainda outros problemas graves para as mulheres: Sintomas como ansiedade, depressão e estresse se tornaram mais comuns a elas do que em homens, em 2020 e 21, segundo um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP).
A pandemia impactou mais a vida das mulheres e tem acelerado diariamente as desigualdades de gênero. Por isso é preciso reconhecer que, apesar das inúmeras conquistas femininas, a desigualdade e a dinâmica sexista, presentes em muitos ambientes, ainda atravessam a nossa história. Vamos ter que vencer mais essa crise.