Existe populismo de direita (ou extrema-direita): o populismo-autoritário ou nacional-populismo. E existe populismo de esquerda (o neopopulismo).
A raiz do neopopulismo continua fincada no subsolo fundado pelo marxismo. Quer exemplos? Investigue o ideário dos partidos Morena (de Obrador e Sheibaum, no México), PLH (de Manuel e Xiomara Zelaya, em Honduras), CH (de Petro, na Colômbia), MAS (de Evo e Arce, na Bolívia), PT (de Lula, Dirceu, Gleisi e Haddad, no Brasil), PSUV (de Chávez e Maduro, na Venezuela), FSLN (de Ortega e Murillo, na Nicarágua), FMLN (de Funes e Cerén, em El Salvador), FG (de Lugo, no Paraguai) para não falar do PCC (dos irmãos Castro e Canel, em Cuba), que embora não seja propriamente populista investiu no crescimento do neopopulismo latino-americano.
Pode-se dizer que não há maiores problemas até aqui. Em democracias todos têm liberdade para aderir à religião que quiserem. Os neopopulistas não precisariam negar isso (dando a impressão de que querem nos enganar).
O problema, entretanto, não é sua devoção a uma ideologia e sim o seu comportamento avesso à democracia liberal.
Todos os populismos do século 21 – o nacional-populismo de direita e o neopopulismo de esquerda – são adversários da democracia liberal.
Vamos tomar o exemplo do Brasil atual. Bolsonaro é populista de direita. O fato de Bolsonaro ser antidemocrático e golpista - o que já se sabe desde o século passado, décadas antes do atual relatório da Polícia Federal - não torna Lula, outro populista, porém de esquerda, um democrata. Não é assim que funciona. Não basta lutar contra um tipo de autoritarismo para ser democrata.
Forças nazistas, antidemocráticas, foram derrotadas na URSS por forças stalinistas, que não viraram democráticas por isso.
Eu mesmo, que escrevo estas linhas, lutei contra a ditadura militar e não me tornei democrata por isso. Só muito tempo depois me converti à democracia. Mas Lula, até hoje, não.
Não importa se Lula se opôs à ditadura militar e se opõe a Bolsonaro. Quem se opõe a Bolsonaro, porque ele queria destruir as instituições da democracia, mas não quer destruí-las e sim ocupá-las e hegemonizá-las para se delongar no poder, bypassando a alternância democrática, também não pode ser considerado um democrata.
Há, porém, outros indicadores mais fáceis de perceber.
Quem não defende a Ucrânia invadida e sim o invasor Putin, não pode ser democrata.
Quem não defende a democracia liberal de Taiwan ameaçada pela China, mas apoia a ditadura chinesa, não pode ser democrata.
Quem não critica a teocracia do Irã por atacar a democracia de Israel via seus grupos terroristas (Hezbollah, Hamas, Houthis, milícias xiitas no Iraque e na Síria etc.), mas acusa o agredido de genocídio, não pode ser democrata.
Quem não condena o ditador Maduro por roubar as eleições e nem reconhece a vitória de Edmundo González, não pode ser democrata.
Quem se alinha ao eixo autocrático (Rússia, China, Irã etc.) – via BRICS ou Sul Global – contra as democracias liberais, não pode ser democrata.
Lula faz tudo isso. A despeito dos canais de TV chapa-branca diariamente o incensarem como grande democrata, defensor e até salvador da democracia, ele não é um democrata só porque é contra Bolsonaro, disputa eleições e respeita o resultado das urnas.
Democracia não é eleição. As oitenta e nove ditaduras que existem no mundo em 2024, em sua maioria, promovem eleições (são as cinquenta e seis autocracias eleitorais). Os vinte a trinta regimes eleitorais não-autoritários, parasitados por populismos, que existem na atualidade, não são liberais.
A eletividade é apenas um dos critérios da legitimidade democrática. Um regime só é legitimamente democrático na medida em que, além da eletividade, observar cinco outros critérios: a liberdade, a publicidade ou transparência, a rotatividade ou alternância, a legalidade e a institucionalidade. Quantos desses critérios são hoje respeitados pelo nosso chefe de governo?