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Imagem: Enio Fonseca / Arquivo Pessoal

Retomar grandes reservatórios de água: remédio para extremos climáticos?

Medida pode ser vista como garantia de produção de energia, de alimentos, abastecimento público e preservação ambiental?


Ênio Fonseca

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Engenheiro Florestal especialista em gestao socioambiental. CEO da Pack of Wolves Assessoria Socioambiental, Conselheiro do FMASE. Foi Superintendente do Ibama, Conselheiro do Copam e Superintendente de Gestão Ambiental da Cemig. Membro do IBRADES , ABDEM, ADIMIN, da ALAGRO E SUCESU


O Seminário de Segurança Hídrica e Energia  aconteceu como evento paralelo ao G20, no Rio de Janeiro, nos dias 12 e 13 de novembro/24, numa iniciativa das associações: FMASE, ABRAPCH, ABRAGEL E  AGEVAP, e que contou com quase 200 participantes, e  teve como objetivo:

-       enfatizar a importância de uma gestão integrada de recursos hídricos, visando segurança jurídica aos empreendedores, com foco em políticas públicas eficazes;

-       discutir a relevância das barragens e reservatórios, especialmente as hidrelétricas como garantia de segurança hídrica e energética, controle de cheias, de estiagens,  de múltiplos usos e:

-        explorar o papel das energias renováveis no enfrentamento às mudanças climáticas e na mitigação e adaptação aos eventos críticos resultantes dessas mudanças;

Coordenei a sessão de abertura do evento,  que contou com autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário, e tratou da segurança hídrica no contexto das discussões globais, do G20 à COP30.

O evento discutiu ainda regras operativas do sistema de gestão hídrica e energética, a economia Azul, energias renováveis e sua contribuição para mitigação e adaptação às mudanças climáticas e sustentabilidade hídrica, gerenciamento de secas e cheias, além da importância da transição energética.

A principal conclusão do evento é a necessidade de retomada, pelo país, da construção de reservatórios de grande porte para acumulação de água, destinada ao uso múltiplo.

A participação das hidrelétricas na geração de energia do Brasil cairá para menos de 50% em 2034, de acordo com a estatal EPE (Empresa de Pesquisa Energética). A previsão é que a queda seja acompanhada do crescimento de outras fontes, como usinas solares, eólicas e aquelas movidas a gás natural.

As hidrelétricas são responsáveis por 55,8% da energia gerada pelo país hoje e, em dez anos, a previsão é que a participação seja de 46,7%. Mesmo assim, elas ainda devem ser a principal fonte de eletricidade do país.

Faz pouco tempo que nossa matriz elétrica estava amparada na produção de energia hidrelétrica em mais de 90% , e este percentual vem caindo porque o Brasil não tem planejado novas usinas de grande porte, capazes de acumular grandes volumes de água possíveis de atender diversas  demandas de uso múltiplo.

O Brasil possui mais de 1.500 usinas hidrelétricas de pequeno, médio e grande porte. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) indica que o país tem: 219 usinas hidrelétricas de grande porte, 425 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), 739 centrais geradoras hidrelétricas (CGHs).

No mundo temos mais de 62 mil Usinas Hidrelétrica.

A matriz elétrica brasileira é uma das mais renováveis do mundo, isso porque grande parte da energia elétrica gerada no Brasil vem de usinas hidrelétricas. A energia eólica, a solar e a de biomassa e também a de resíduos vem tendo participação crescente na matriz.

As energias renováveis têm uma participação significativa na matriz elétrica. Ao todo, são utilizados cerca de 85 % de fontes renováveis para gerar energia elétrica no Brasil, comparado a 25% de utilização no mundo.

Por sua vez, a matriz energética mundial apresenta a participação de energias renováveis no consumo final de energia de 13% em 2023. No Brasil é de 47 %, ou seja, 3,62 vezes mais limpa que a média mundial.

Cada tipo de fonte de energia tem sua aplicação e lugar na matriz energética. A escolha deve considerar as especificidades locais e o custo de oportunidade socioambiental. Nenhuma fonte pode ser desprezada! O que interessa é a segurança energética!

A prosperidade mundial depende de energia confiável, abundante e barata.  A energia hidráulica é das fontes renováveis a mais profundamente conhecida e uma das utilizadas a mais tempo pelo homem, desde as rudimentares rodas da água para moinhos como as modernas turbinas e geradores para a produção de eletricidade. 

Outro aspecto muito importante da energia hidráulica é sua capacidade de ser “armazenada” para uma utilização “a posteriori”, conforme a demanda, seja pela reservação da água em reservatórios seja pela utilização de usinas reversíveis, sem contar que se a energia assim gerada for armazenada em baterias, poderia-se citar que ela é armazenada duas vezes, e que a existência de significativos volumes de água permitem o seu uso múltiplo.

Entremeada com estas questões de fontes de energia temos que trabalhar com uma das questões principais que afeta a nossa sociedade e que são as Mudanças Climáticas e como elas devem ser enfrentadas. Na COP 26 em Glasgow representantes dos diversos países assinaram o “Glasgow Climat Pact” que pede: Urgência da transição energética e descarbonização através de algumas ações como:

-Coalizão mundial para desenvolvimento de energias renováveis (eólica, solar, biomassa e hidráulica).

- Reduzir emissões de GEE, limitando aquecimento em até 1,5°C até 2100 – idealmente – e nunca ultrapassar os 2ºC (levando em conta níveis pré-revolução industrial).

- Neutralizar as emissões totalmente até 2050.

 Para que isto aconteça precisaremos ver um grande aumento na geração de eletricidade de baixo carbono, com destaque para as usinas hidrelétricas  com reservação de água, e também as PCHs a fio d’água,  mas em equilíbrio e sinergia com todas as fontes (inclusive com aquelas não renováveis), o que garante a segurança energética do País;

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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