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Imagem: Reprodução / Agência Brasil

Seca extrema de 2024 e seus impactos no Brasil


Ênio Fonseca

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Engenheiro Florestal especialista em gestao socioambiental. CEO da Pack of Wolves Assessoria Socioambiental, Conselheiro do FMASE. Foi Superintendente do Ibama, Conselheiro do Copam e Superintendente de Gestão Ambiental da Cemig. Membro do IBRADES , ABDEM, ADIMIN, da ALAGRO E SUCESU


Estamos entrando no mês de outubro e vivemos a estação da primavera. Ainda vivemos o período de seca, na maior parte do país, pois espera-se que em outubro as chuvas retornem e consigam apagar este longo período de estiagem que trouxe enormes prejuízos, em especial em função das queimadas .

De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a seca que ainda assola o Brasil este ano é apontada como a mais severa da história do país. Cerca de 5 milhões de km² estão em alguma condição de seca, o que corresponde a 58% do território nacional. Entre os fatores que contribuem para essa crise hídrica estão o fenômeno El Niño, o desmatamento, as mudanças climáticas e o uso inadequado do solo, todos agravados pela ação humana.

A falta de chuvas no período seco, é um fenômeno natural em nosso país, acontecendo com maior ou menor intensidade todos os anos. Os movimentos da atmosfera, explicados pela climatologia, tem papel predominante no clima de nosso dia a dia, sendo um fator que o homem não consegue controlar. El Mino e La Nina ditam o clima do planeta. Especialistas afirmam que ações antrópicas como a emissão de gases efeito estufa, a degradação do meio ambiente, possam de alguma forma contribuir para os extremos climáticos que estamos vivendo.

O aquecimento das águas do Pacífico intensificou a escassez de chuvas em diversas regiões do país, especialmente no Norte e no Nordeste. Com a previsão de que o fenômeno La Niña comece a atuar a partir de outubro, os meteorologistas esperam que o padrão climático se altere, com maior chance de chuvas no Norte e Centro-Oeste do país, mas com a possibilidade de novas enchentes no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul.

Nos biomas brasileiros, a seca tem afetado com maior intensidade a Amazônia e o Cerrado. Estados como Goiás, Mato Grosso, Acre, Pará e Amazonas registraram níveis extremos de seca em agosto e setembro de 2024. Também estados como Minas Gerais, São Paulo e outros da região Sudeste, Sul e Nordeste enfrentam longos períodos de estiagem.

No passado, a seca já foi responsável por tragédias no Brasil, como a Grande Seca de 1877-1879, que causou a morte de 500 mil pessoas no Nordeste. Os eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, observadas recentemente no Rio Grande do Sul, não seguem uma periodicidade definida, ainda que estejam sendo registradas de forma mais recorrente. Estudos climatológicos preveem que estes fenômenos extremos devem se tornar mais frequentes e intensos.

O estado do Rio Grande do Sul, que já havia enfrentado cheias em 1940, agora lida com uma situação muito mais grave. Mais de 500 mil pessoas foram desalojadas no estado, superando amplamente o impacto das enchentes do ano passado.

Enquanto secas anteriores se concentravam em áreas localizadas, como a Região Centro-Oeste em 2020 e o Semiárido entre 2012 e 2017, a seca deste ano afeta praticamente todo o território nacional.

A seca e a estiagem já causaram prejuízos econômicos, superiores a R$ 43 bilhões em perdas em 2024, especialmente na produção de alimentos, afetados pela falta de água e pelas queimadas.

Os municípios brasileiros totalizam prejuízo econômico de R$ 1,1 bilhão em decorrência de incêndios florestais entre janeiro e 16 de setembro de 2024. O valor é 33 vezes maior que as perdas computadas no mesmo período do ano passado (R$ 32,7 milhões). Quase mil decretos de emergência por queimadas foram assinados pelas prefeituras, com 11,2 milhões de pessoas afetadas pelos incêndios.

A seca e as queimadas têm impactado a safra, principalmente em regiões como a região Centro-Oeste. A produção de grãos para o ciclo 2023/2024 deve ter queda de 21,4 milhões de toneladas, em relação ao ciclo anterior. A seca tem deixado a conta de energia elétrica mais cara, pois as usinas hidrelétricas, principais geradoras de eletricidade no Brasil, estão com menos água nos reservatórios, obrigando ao uso de fontes geradoras térmicas com custo maior para o consumidor.

A seca tem impactado a logística, principalmente na Região Norte, onde o transporte e pessoas e carga é essencialmente fluvial. Rios sem água afetam ainda a atividade pesqueira, causando forte mortandade da fauna. O impacto da estiagem é visível em 12 grandes rios do país, com três deles em situação crítica: o Rio Paraguai, o Rio Paraná e o Rio Amazonas.

Várias cidades foram obrigadas a implementar rodízio de água.

Por ser um fenômeno recorrente, planos de prevenção municipais, estaduais e federal devem prever ações de adaptação possíveis nestas situações, como estruturação de órgãos de pronta resposta, como a defesa civil, estruturação operacional dos agentes públicos, construção de barragens com grandes reservatórios de uso múltiplo, barraquinhas de abastecimento e programas de uso consciente da água, tanto no meio rural, quanto no urbano.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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