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Imagem: Foto: Brava Terra Lúpulo | @brava_terra_lúpulo

Aromas Brasileiros: A produção e o uso do lúpulo nacional

Produção brasileira nasceu na Serra da Mantiqueira e está em plena expansão


Heberth Nunes

Entretenimento

Cozinheiro, cervejeiro caseiro e profissional, sommelier de cervejas e especialista em estilos e harmonizações.


Você sabia que existe flor na sua cerveja?

Para se produzir a bebida são necessários quatro ingredientes básicos: água, malte, lúpulo e levedura.

Água é a matéria prima em maior quantidade.

Malte é o insumo que fornece açúcar, que irá fermentar e produzir o álcool, além disso dá cor e sabor ao produto final.

Vários tipos de malte são usados como matéria prima e o mais conhecido é o malte de cevada.

As leveduras não são especificamente um ingrediente, elas são microrganismos que fazem a fermentação durante o processo de produção, elas transformam o líquido obtido do cozimento do malte no produto final cerveja.

O quarto ingrediente é o lúpulo, admirado por muitos é o responsável por dar aroma, amargor e ainda é um conservante natural da bebida.

E é isso mesmo que você leu no começo desse texto, o lúpulo é uma flor!

Esse insumo tão importante é uma flor verde, de uma planta trepadeira, natural do hemisfério norte. Dentro dos cones das flores que estão as substâncias químicas responsáveis por suas funções na composição da cerveja.

Foto: Brava Terra | @brava_terra_lúpulo

Ao longo dos anos a indústria produtora do lúpulo desenvolveu muito e, recentemente, começou a surgir no Brasil uma produção nacional.

A história começou 2005, na Serra da Mantiqueira, quando o produtor Rodrigo Veraldi conseguiu germinar algumas mudas em estufa porém, após serem transferidas para o solo, as plantas não resistiram. Parecia ser o fim do projeto mas, depois de algum tempo, colaboradores da fazenda encontraram por acaso uma das plantas que havia sobrevivido. Surgia assim a primeira variedade de lúpulo brasileiro que foi batizada com o nome da região: Serra da Mantiqueira.

A partir dessa época a produção está em crescente evolução e em uma pesquisa, realizada no início de 2021 pela Aprolúpulo (Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo), foram catalogados 109 produtores brasileiros com cerca de 40 hectares plantados em nosso território, o que representa cerca de 75 toneladas por safra.

A expectativa é que a produção total dobre de tamanho até o final de 2023. Um dos maiores desafios encontrados pelos produtores é a quantidade de exposição à luz que a planta precisa para desenvolver. Como ainda não está 100% adaptada às nossas condições climáticas os produtores precisam oferecer uma suplementação de iluminação artificial ao final do dia; nas regiões nativas do hemisfério norte, na época de crescimento das plantas, os dias são mais longos.

Por outro lado, aqui no Brasil, temos a vantagem de conseguirmos duas safras por ano, de setembro a fevereiro e de março a julho, como nosso inverno não é tão rigoroso a nossa produção consegue se estender até a época mais fria.

Um outro desafio a ser superado é o desenvolvimento da indústria de equipamentos usados no beneficiamento e embalagem do lúpulo. Para a fabricação de cerveja o ingrediente é utilizado em forma de pellets, que são obtidos através da secagem e prensa das flores das plantas. É necessário ainda importar e adaptar os vários equipamentos usados nesse processo de peletização das flores. Quem vem realizando um ótimo trabalho na construção de equipamentos e máquinas para o beneficiamento do lúpulo brasileiro é a empresa Forte Lúpulo, que já é uma referência no mercado e traz novas tecnologias do exterior pra uso no Brasil.

Como a quantidade de lúpulo nacional ainda não é o suficiente para abastecer as grandes indústrias são as cervejarias artesanais que estão se beneficiando das primeiras colheitas do insumo brasileiro. Ao mesmo tempo existe uma necessidade de apoio por parte de mais cervejarias, quanto mais o nosso produto for utilizado mais esse plantio irá se desenvolver.

É importante lembrar também que o uso dos lúpulos brasileiros nas cervejarias locais contribui muito na redução de emissão de carbono, uma preocupação grande das industrias sustentáveis, isso porque ainda utilizamos 99% de importados com uma gigantesca cadeia de transporte.

Alguns produtores dessa matéria prima já estão conseguindo reconhecimento dos seus produtos, já é uma realidade pellets nacionais com capacidade de fornecer aromas e sabores excelentes para a produção de cervejas. Também já é possível identificar aromas e sabores específicos presentes nas nossas produções, que lembram frutas tropicais e frutas verdes, influência do nosso solo, clima e regiões de cultivo.

O estado que mais produz é Santa Catarina, em segundo lugar está o Rio de Janeiro, em terceiro São Paulo, quarto Rio Grande do Sul e Minas Gerais está em quinto lugar. No último mês de junho, Teresópolis, no Rio de Janeiro, foi reconhecida pelo governo federal como a Capital Brasileira do Lúpulo, nessa região grandes avanços no plantio e beneficiamento estão sendo feitos pelo Grupo Petrópolis, grande produtor de cerveja. O Viveiro Lúpulos Ninkasi, da produtora Teresa Yoshiko, também contribuiu muito para esse reconhecimento da região.

Vale destaque também para os produtores Brava Terra e IRA Hops, ambos de São Paulo, Terras Altas, da cidade de Passa Quatro - MG, e Uai Hops de Andrelândia - MG. Recentemente a Prússia Bier, de São Gonçalo do Rio Abaixo, aqui perto de BH, lançou a BR Ale, uma cerveja Ale produzida 100% com lúpulos nacionais do produtor IRA Hops. O resultado foi uma cerveja extremamente aromática e refrescante, com amargor baixo e muito equilibrada.

Foto: Divulgação/Prússia Bier

Várias outras cervejarias artesanais também estão utilizando lúpulos brasileiros e a expectativa é de muito crescimento e melhora na qualidade do insumo.

Para elaborar essa matéria eu conversei com o Jefferson Brandão, natural de Belo Horizonte ele é cervejeiro caseiro, Sommelier de cervejas e possui um pequeno plantio de lúpulo na região de Matozinhos, bem próximo à BH. Jefferson é um grande incentivador dos produtores nacionais e desenvolve várias parcerias entre os agricultores e as cervejarias, contribuindo muito para a divulgação do mercado de lúpulo brasileiro.


Dica de Cerveja Mineira

Essa semana a cervejaria Lagoon Beer comemorou seu primeiro ano de vida. Com uma fábrica em Capim Branco, próximo à BH, a cervejaria conta com cinco rótulos: Triple Malt Pilsen, Lager, Amber Lager, Session IPA e American IPA. Em pouco tempo de operação a cervejaria já está presente em 10 estados brasileiros e em quase 2000 pontos de venda.

A cerveja Pilsen é a mais vendida mas o destaque mesmo vai para a Session IPA e a Amber Lager, cervejas excelentes. Para quem está começando a explorar o mundo das cervejas artesanais esses dois rótulos são ótimas pedidas.

A Amber Lager é uma cerveja extremamente equilibrada e fácil de beber, de cor acobreada ela tem o sabor do malte de cereal muito presente, lembra um leve caramelo. A Session IPA é muito aromática e traz em evidencia os lúpulos nobres utilizados na receita, tem amargor baixo, é muito refrescante e é uma ótima cerveja para harmonizar com um tira gosto de carne suína.



* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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