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Imagem: Lucas Rage / Rede 98

A infame cobertura do segundo turno, onde o centro não existe

Canais de TV que acompanharam o pleito transformaram disputa em um embate entre direita e extrema-direita


Augusto de Franco

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Augusto de Franco, analista político, é autor do livro Como as democracias nascem


A derrota do PT e do PSOL nas eleições municipais de 2024, tanto no primeiro turno, quanto no segundo turno, subiu à cabeça dos jornalistas chapa-branca. Ontem, em vários canais de TV, transformaram a eleição num embate entre direita e extrema-direita. Para esse tipo de jornalismo, não existem mais candidatos de centro. Todo centro virou "centrão", logo, de direita. Esse jornalismo partidarizado repete, repete e repete que Bolsonaro perdeu, mas não diz uma palavra sobre Lula. A “lógica” é a seguinte: não sendo da esquerda petista ou psolista, então é de direita ou extrema-direita. É contra o progresso porque não é “progressista”.

Certo jornalismo televisivo teve a coragem de fazer o que nem os dirigentes do PT têm. Pelo tempo dedicado na cobertura, Fortaleza foi tratada como a cidade mais importante do país (única capital em que o PT venceu, por menos de 1% dos votos) e ainda celebrou o crescimento de 100% do PT - já que em 2020 o partido não venceu em nenhuma capital. Teve até o desplante de dizer que Lula foi vitorioso nas urnas pois os candidatos que venceram são de partidos que compõem a sua base no Congresso...

Engraçado, mas não é para rir. Porque é infame!

Ficou claro o vezo da análise. Os jornalistas chapa-branca analisam todos os eventos como um embate entre esquerda e direita. Mas que esquerda temos no Brasil? A esquerda lulopetista é uma esquerda democrática como a de Boric, do Chile? Não! É a esquerda populista que reconhece a eleição fraudulenta de Maduro, diz que o Israel é genocida, vê o grupo terrorista Hamas como uma força de libertação, apoia Putin e afirma que Zelensky é nazista.

Por isso, para a democracia, o acontecimento mais importante do segundo turno foi a derrota de Boulos no município de São Paulo, apesar de o PT estar no governo federal e de Lula e sua primeira-dama terem investido, com golpes finais abaixo da cintura, contra Ricardo Nunes. E o fato de Boulos ter perdido em quase todas as regiões (só venceu em 3 das 57 zonas eleitorais) foi indicativo de que há uma rejeição ao tipo de liderança que ele queria consolidar na cidade.

Mas não conseguiu.Boulos perdeu até para a abstenção em São Paulo. “É o antipetismo” – gritam os jornalistas chapa-branca (pois Boulos é um submarino do PT no PSOL e os eleitores percebem isso). Curioso que ninguém constata o óbvio: que só há antipetismo porque há petismo. E o que é o petismo?

Petismo é um comportamento político dito de esquerda. E é bom repetir que não se trata de uma esquerda democrática e sim de uma esquerda populista que não reconhece a vitória da oposição venezuelana (roubada pelo ditador Maduro), não move uma palha para apoiar a resistência ucraniana à invasão militar da ditadura neoczarista de Putin, apoia a guerra do Irã para destruir a democracia de Israel (uma ilha de liberdade cercada por quinze autocracias do Oriente Médio), aplaude o alinhamento do país ao cafofo de ditaduras chamado BRICS (uma articulação anti-OTAN e anti-UE disfarçada de bloco econômico) e ao eixo autocrático (Rússia, China, Irã etc.) contra as democracias liberais.

Mas tem mais. O lulopetismo é uma esquerda estatista, contra a autonomia do banco central e das agências reguladoras, contra uma reforma administrativa que viabilize corte de gastos e contra, portanto, o equilíbrio fiscal, contra as privatizações, inclinada ao uso político dos bancos públicos, contrária à lei das estatais, a favor da escolha governamental de "complexos industriais estratégicos" para privilegiar investimentos públicos, espalhadora da falsa narrativa de que o mensalão, o petrolão, o impeachment de Dilma e a prisão de Lula fazem parte de um mesmo "projeto articulado de fora", de um golpe das elites, apoiadas pela CIA e pelo FBI, para destruir a Petrobrás e as empreiteiras, tomar o pré-sal e tirar o Lula da eleição de 2018.

Essa é a esquerda lulopetista. A esquerda que foi fragorosamente derrotada nas eleições municipais de 2024.

Mas os partidarizados não se abalam com nada isso, sinal dos tempos degenerados em que vivemos no Brasil, onde todo mundo quer atuar como partido sem ser partido. O lavajatismo se perdeu ao atuar como um partido dos procuradores. O STF decaiu ao querer atuar como um partido do judiciário. E certo canal de TV a cabo está atuando abertamente como uma "tendência externa" do PT e uma ASCOM de Lula.

Parece claro que isso não irá parar em bom lugar.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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