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Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Quem é o “mercado” tão criticado por Lula?

Quando ouvimos que “o mercado reagiu mal” a alguma fala ou decisão do governo, como costuma ser mencionado nas críticas do presidente Lula, é comum imaginar que o mercado seja uma entidade abstrata ou distante, representando apenas interesses de grandes investidores. Contudo, essa visão está longe da realidade.


Antônio Claret Jr.

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Advogado e colunista do programa 98 Talks


Quando ouvimos que “o mercado reagiu mal” a alguma fala ou decisão do governo, como costuma ser mencionado nas críticas do presidente Lula, é comum imaginar que o mercado seja uma entidade abstrata ou distante, representando apenas interesses de grandes investidores. Contudo, essa visão está longe da realidade. O mercado não é um ser independente, mas uma rede composta por milhões de pessoas, empresas, investidores e consumidores, cujas reações refletem a percepção sobre os rumos econômicos do país. Ignorar o mercado, portanto, é ignorar as pessoas que fazem parte dele.

O mercado é formado por diferentes atores. São trabalhadores que dependem de empresas saudáveis para manter seus empregos, investidores pequenos e grandes que aplicam suas economias para garantir um futuro mais estável, e consumidores que sentem diretamente os efeitos das políticas econômicas no preço dos produtos e na inflação. Segundo a B3, a Bolsa de Valores brasileira, mais de 5 milhões de brasileiros investem diretamente em ações, muitos deles pessoas comuns, da classe média, que utilizam seus recursos para complementar a renda ou planejar a aposentadoria. Quando o mercado “reage mal”, como em momentos de queda na bolsa ou alta do dólar, essas pessoas são diretamente impactadas.

As reações do mercado não surgem do nada. Elas são respostas a sinais de instabilidade econômica, como aumento da dívida pública, falta de clareza nas políticas fiscais ou declarações que geram insegurança no setor privado. Por exemplo, quando o governo anunciou o arcabouço fiscal sem detalhar cortes de gastos em 2023, o mercado reagiu com desconfiança, o dólar subiu e a bolsa caiu. Esses movimentos afetam o crédito, o custo de produtos importados e a confiança de empresários que precisam planejar investimentos.

Ao criticar o mercado como um inimigo, o governo muitas vezes desconsidera que ele afeta diretamente a população. Quando a desconfiança dos investidores aumenta, as taxas de juros sobem, prejudicando empresas que dependem de financiamento e encarecendo empréstimos e financiamentos para consumidores. Isso significa que uma decisão mal recebida pelo mercado pode dificultar a compra de uma casa ou carro, ou mesmo afetar a manutenção de empregos, já que empresas reduzem investimentos em cenários de incerteza.

Além disso, fundos de pensão, que administram as aposentadorias de milhões de brasileiros, também investem no mercado financeiro. Quando o mercado está instável, o rendimento desses fundos cai, o que pode comprometer a renda futura de trabalhadores. Ou seja, o impacto vai muito além dos “grandes capitalistas” que muitas vezes se imagina serem os únicos preocupados com a economia.

Os dados ilustram bem essa realidade. A dívida pública brasileira atingiu 75,9% do PIB em 2024, e o aumento dessa dívida sem um plano claro de controle eleva os juros pagos pelo governo. Esses juros não afetam apenas os cofres públicos, mas também os empréstimos para empresas e consumidores. Além disso, os investimentos privados, que representaram cerca de 20% do PIB em 2023, são fundamentais para o crescimento econômico e a geração de empregos. Se esses investimentos caem por falta de confiança, o impacto é sentido em toda a economia.

Ignorar o mercado é, na prática, ignorar milhões de brasileiros que poupam, consomem e dependem de um ambiente econômico estável para melhorar sua qualidade de vida. Isso não significa que o governo deva governar exclusivamente para atender às expectativas do mercado financeiro, mas desdenhar dele pode custar caro para a população. Afinal, como a história já mostrou inúmeras vezes, políticas econômicas que desafiam a lógica não afetam apenas gráficos e índices, mas se refletem diretamente na vida de todos nós.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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