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Imagem: Saulo Cruz/Agência Senado

Pacheco é candidato ao governo de Minas?

Lula lançou o senador para a disputa, mas presença dele nas urnas ainda é uma incógnita


Paulo Leite

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Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em resposta a jornalistas, disse que Rodrigo Pacheco (PSD-MG) seria um candidato natural ao governo de Minas. Mas será que combinaram isso com o senador?

Lula admite que seu governo não entregou o que prometeu, argumentando que, mesmo assim, é cedo para antecipar pesquisas de intenção de votos para as eleições de 2026.

Mas, se é errado antecipar o discurso para as eleições federais, por que o mesmo raciocínio não vale quando o assunto é a eleição no estado?

O entourage do senador Pacheco não avalia como positiva a possibilidade de ele participar de uma eleição majoritária. Então, por que Lula coloca o nome do senador na pauta?

São duas as hipóteses.

Lula não tem nenhum nome dentro dos seus quadros mais diretos para o governo em Minas, e colocar Pacheco como seu candidato demarca a posição do petista nas disputas estaduais.

A outra hipótese é a queda de popularidade do presidente, particularmente em Minas, onde ele se desgasta em um embate com o governador Romeu Zema (Novo), que faz um governo mais bem avaliado do que o de Brasília. Nesse caso, Lula demonstraria sua preocupação com a política do estado.

As eleições para governador em Minas Gerais em 2026 prometem ser muito disputadas. Como o segundo estado mais populoso do país e um tradicional termômetro político, Minas tem um eleitorado diversificado e estratégico, que influencia tendências nacionais.

Minas Gerais vive um momento de transição política. O governador Zema, reeleito em 2022 com ampla margem de votos, não poderá concorrer a um terceiro mandato consecutivo, abrindo espaço para novos nomes. Zema terá um papel central na definição do sucessor; quem receber seu apoio herdará seu capital político.

Zema já declarou seu apoio ao seu vice, Professor Mateus, que tem apoio unânime da executiva do seu partido.

O PSD de Kassab tem a difícil tarefa de definir um nome com condições de disputa. O ministro Alexandre Silveira, nome mais forte na executiva estadual do partido e com muita ascendência no plano federal, é um nome forte. Mas daí vem Lula e joga água no feijão de Kassab, lançando o nome de Pacheco, filiado ao PSD. Acrescente-se ainda que Kassab elevou o tom contra a política econômica do governo federal, numa clara sinalização de independência.

O PT agoniza na falta de renovação de seus quadros e, dentro do partido, dificilmente encontrará um nome com condições de disputa. Reginaldo Lopes, deputado federal pelo PT, surge como uma possibilidade.

O PL, reduto do bolsonarismo em Minas, tem nomes fortes, como o de Nikolas Ferreira, que sai de cena pela idade insuficiente para disputar o governo do estado. A recente derrota na eleição para prefeito da capital ainda não foi bem digerida pelo partido no estado.

No Republicanos, a situação se complica com a recente filiação de Alexandre Kalil ao partido. Embora tenha sido derrotado nas eleições municipais, quando apoiou Mauro Tramonte, Kalil nutre o desejo de disputar a eleição estadual. Nas últimas eleições para governador, foi derrotado por Zema. Ainda no Republicanos, e se nele permanecer filiado, o nome do senador Cleitinho Azevedo ganha força. Mas os analistas mais atentos percebem a dificuldade de se chegar a um consenso em torno do nome do senador, por seu espírito beligerante, mais talhado para o Legislativo.

MDB, PSDB e PDT tendem a fazer alianças com outros partidos mais credenciados para a disputa.

Resta saber quem os setores mais à esquerda e os progressistas lançarão ou apoiarão nessa disputa. Até agora, aceitam sugestões de nomes. O PT e aliados podem tentar unir a esquerda em torno de um nome e, nesse contexto, o nome de Pacheco pode soar como música. No entanto, a fragmentação da esquerda e a rejeição ao PT por parte do eleitorado são obstáculos.

Outra possibilidade é saber quem pode capitalizar o eleitorado bolsonarista, unindo os setores da direita e os conservadores em torno de um nome carismático. Aprovar a PEC do deputado federal Eros Biondini, que diminuiria a idade mínima para elegibilidade de presidentes e governadores, daria a Nikolas Ferreira protagonismo nesse campo eleitoral.

A política mineira é conhecida por suas surpresas. Um nome fora do radar pode emergir, especialmente se houver uma grande fragmentação entre os principais partidos. Além disso, alianças inusitadas podem mudar o jogo, mas isso, por enquanto, é mera especulação.

Economia e gestão serão fatores decisivos na escolha do eleitor e, nesse sentido, o desempenho do governo Zema até 2026 influenciará a eleição. Se o estado mantiver a boa imagem de gestão que hoje apresenta, o eleitorado pode optar pela continuidade.

O cenário nacional, incluindo a popularidade do governo federal e eventuais crises, pode impactar a disputa. Alianças e coligações serão cruciais em um estado com tantas correntes políticas, e a tendência de polarização entre esquerda e direita deve continuar.

As eleições para governador de Minas Gerais em 2026 estão longe de ter um favorito definido. A disputa será marcada por uma complexa articulação política, com múltiplos cenários possíveis. O estado, conhecido por seus meandros palacianos e costuras de conversas reservadas, além da diversidade política, continuará a ser um dos principais palcos da política brasileira.

Aos poucos, os nomes e alianças começarão a se consolidar, mas uma coisa é certa: Minas Gerais será, mais uma vez, um termômetro decisivo para o futuro do país.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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