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Imagem: Instagram / Baixa Gastronomia

Os 10 mandamentos do bom botequim

Do chato ao saleiro, dez coisas que não podem faltar no seu boteco raiz!


Nenel Neto

Entretenimento

Entusiasta dos botecos, apresentador do Buteco 98 e jornalista do perfil Baixa Gastronomia no Instagram


Como se reconhece um bom botequim? Pouca gente fala disso, mas existem algumas pistas que nos ajudam a saber se o boteco é bom mesmo ou se é meia bomba.

Portanto, vou listar os 10 mandamentos do bom botequim. É importante salientar que ter cerveja gelada e pelo menos uma prateleira de bebidas baratas é fundamental. Sendo assim, nem coloquei estes itens na lista.

Bar do Ciro, no Horto, e seu tradicional Balcão (Instagram @baixagastronomia / Divulgação)

1 – Deverás ter um balcão!

O balcão é a alma do botequim. É nele que a vida acontece. O balcão é o divã do povo! Local de reflexão e contemplação, onde se comemoram as vitórias e onde se digerem as derrotas da vida.

Bola Bar e sua estufa de 2 andares. O verdadeiro coração do Boteco! (Instagram @baixagastronomia / Divulgação)

2 – Armazenarás acepipes em uma estufa

Se o balcão é a alma de um bom botequim, a estufa é o coração! Ela é fundamental. Algumas até lembram obras de arte de grandes artistas.

Tem a estufa fria, para armazenar acepipes e conservas, pouco utilizadas nos botecos de Belo Horizonte. E tem a estufa de tira-gostos quentes, a mais comum por aqui.

A função dela não é apenas enfeitar o balcão. Ela tem que estar na temperatura correta. Não adianta pescar o tira-gosto na vitrine pra depois esquentá-lo no micro-ondas.

O melhor da estufa é namorá-la. É a expectativa em torno do que você vai comer. Enquanto bebericamos umas e outras no balcão, vamos paquerando a estufa, pensando no que pedir. Aquele é o momento da conquista! Primeiro a gente come com os olhos, não é mesmo?

Rei do Torresmo e seu "Camarão Mineiro", sem dúvida o melhor lugar para comer o acepipe em BH (Instagram @baixagastronomia / Divulgação)

3 – Venderás torresmo

O boteco não vende torresmo? Melhor nem passar na porta dele então. O torresmo é a mais nobre das comidas de boteco!

Pimenta do Lelis Bar, no União. Caseira, como deve ser (Instagram @baixagastronomia / Reprodução)

4 – Terás pimenta em conserva (caseira!)

Dê preferência aos botecos que fazem sua própria conserva de pimenta. Isso pode parecer uma coisa pequena, mas, acredite, não é.

Se um botequim tem o cuidado de preparar sua própria pimenta, muito provavelmente ele terá o mesmo cuidado com a comida que sai da cozinha.

Botecos que só servem molho de pimenta industrializado precisam rever os seus conceitos.

Uma gotinha de uma boa pimenta da casa ressalta o sabor do tira-gosto ou daquele pêéfe caprichado.

Se o bar não tiver pimenta na mesa, vale a pena perguntar ao garçom ou ao atendente, pois alguns botecos não deixam a pimenta da casa sobre as mesas.

DJ Tim Danado, que luta contra o Baixo Astral à frente do Espanta Crise! (Instagram @baixagastronomia / Divulgação)

5 – Terás o dono à frente do negócio

Botequim que se preze tem o dono atrás do balcão e não pertence a redes ou franquias.

Na maior parte das vezes, a birosca tem a identidade do seu proprietário. A presença dele é fundamental. E vou mais longe, dono de botequim clássico usa jaleco aberto até o meio da barriga. E se ele tiver bigode, impõe mais respeito ainda!

6 – Contarás com garçons “porretas”, que atendem pelo nome

Titanic. Luisinho. Cabeça. Fernandão. Bruce. Passarinho. Boteco clássico tem aquele garçom que faz a diferença. Não é raro acontecer de um deles ir embora para sempre e o movimento da casa ir junto. 

Uma observação importante. Cada garçom tem uma característica. O que se deve levar em consideração é a competência dele. Tem o mais brincalhão, o mais sério, o mais conversador, o menos conversador. 

O mais importante é que ele seja ágil e atento. Não adianta o cara ser legal e não te enxergar quando você levanta a mão pra pedir mais uma ampola.

7 – Terás saleiro e paliteiro sobre a mesa

O saleiro e o paliteiro são fundamentais num bom botequim. Eles são o Lennon e o McCartney dos botecos. Eles dão uma aura caseira ao bar. Além disso, ninguém aguenta mais aqueles horrorosos sachês de sal e aquele plástico que protege palito por palito.

Veja bem, a humanidade começou a operar no vermelho já há algum tempo. O mundo pedindo socorro e os botecos e restaurantes gerando toneladas de lixo com aquele saquinho de papel de sal e com plástico pra proteger palito por palito?

Um viva aos botecos raízes que ainda mantêm saleiro e paliteiro sobre a mesa!

Almôndega de estufa do Sacramento's Bar, no Santa Efigênia. No pratinho de alumínio, como deve ser! (Instagram @baixagastronomia / Divulgação)

8 – Servirás porções em travessinhas de alumínio

Quem vai ao boteco não quer requinte, não quer pimenta biquinho, não quer bowl e, muito menos, prato quadrado.

E, sim, os pratinhos de alumínio nos remetem aos tempos em que a boemia ainda não respirava por aparelhos. 

No almoço, prato fundo Duralex. À noite, travessinha de alumínio. E que assim seja.

9 – Terás a presença do chato dia após dia

Botequim de primeira sempre tem um chato. O que não aconselho é você frequentar aquela espelunca que tem mais de um mala sem alça. É dor de cabeça na certa. Um tá bom. Dois é demais.

Existem vários tipos de chato. Tem o que fala cuspindo, o que te cutuca no fígado – e isso dói pacas! -, o que senta à mesa sem ser chamado, o que conta vantagem o tempo inteiro, o que fala alto, o mentiroso, o que não para de contar piada, o que diz que só tomou um copo de cerveja pra não precisar dividir a conta e por aí vai.

O mala pesada vai todos os dias ao boteco. Ninguém o aguenta. Mas no dia em que ele não vai todo mundo sente falta dele. E se preocupa! Se a figura não comparece por mais de dois dias seguidos, já começam o burburinho e as conjecturas. “Será que fulano morreu? Será que ele está doente?”

10 – Deixarás a televisão desligada

Televisão ligada é o cancro dos botequins. Pode reparar, na esmagadora maioria das vezes, o boteco tem uma televisão ligada sem som, passando algum programa policialesco de quinta categoria no meio da tarde ou um videotape de um jogo da segunda divisão do Campeonato Alemão.

E mesmo que você não se interesse por aquilo, a TV te puxa como um imã, e não te acrescenta absolutamente nada. Você é abduzido e não recebe “nadica de pitibiriba” em troca.

Botequim é coisa séria. É lugar pra gente refletir e curtir a solidão. Ou, se estiver com a turma, pra conversar, bater papo!

A minha torcida é por botecos com menos televisão e mais contemplação!

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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