A nova diretoria do Cruzeiro ainda não tentou iludir o torcedor. Desde quando Ronaldo comprou o clube no fim de 2021 o discurso era de que o objetivo no primeiro ano de Série A era escapar do rebaixamento e se possível disputar uma vaga na Sul-Americana. Graças ao ótimo começo de Brasileiro, a equipe celeste andou sempre dentro da meta e longe do Z-4. Mas as dificuldades encontradas na maioria dos jogos, principalmente em casa, deixavam dúvidas sobre a tranquilidade no segundo turno. Estar um pouco acima dos piores times parecia o teto. Não é mais.
Graças ao ótimo trabalho da diretoria numa janela feita pra ajustes. E o Cruzeiro, apesar do número excessivo de contratações, não fez nada além de ajustes necessários que deixam o time capaz de competir melhor na segunda metade do Brasileirão. Se a falta de criatividade e de alternativas amarraram as mãos de Pepa em algumas partidas importantes, agora ele tem soluções diversas para moldar o time.
E o primeiro molde já deixou sinais no Paraná. Diante do Athletico no último fim de semana, se não mexeu na estrutura do 4-3-3 que implantou desde a chegada, o treinador mudou características importantes no modelo de jogo. Lucas Silva reestreou no meio-campo ao lado de Jussa e Machado deixando o setor mais competitivo sem perder a capacidade de reter a bola. Arthur Gomes debutou na ponta esquerda e assim como Wesley do lado oposto, buscou mais atacar de fora para dentro deixando o corredor para os laterais (principal arma da equipe no início da competição que foi sendo deixada de lado a medida que os adversários passaram a marcar melhor). E a principal novidade, ao que tudo indica, tem a ver com o principal reforço da janela. Mateus Vital jogou solto na frente, às vezes como um 9, em outros momentos buscando a entrelinha como um 10, possivelmente emulando o que Matheus Pereira pode fazer quando estiver bem fisicamente. O toque de qualidade que faltava pode vir daí.
O fato é que se até duas rodadas atrás Pepa se via preso na falta de opções, o leque aumentou sensivelmente a partir de agora. Rafael Elias pode ser um centroavante de mais força e mobilidade como alternativa a Gilberto que não vive grande 2023. Matheus Pereira pode ser o "falso 9", um meia ponta mais criativo quando faltar espaço pra correr ou também o meia central que Mateus Vital não vinha conseguindo ser. Arthur Gomes aumenta a disputa pelos lados. E Lucas Silva deixou ótima impressão como alternativa para o meio-campo.
Não, o Cruzeiro não se tornou um candidato ao título. Talvez nem a uma vaga na Libertadores, ainda que atualmente não se precise fazer tanto para chegar à principal competição do continente via Campeonato Brasileiro. Mas se parecia trabalhar no limite para atingir o objetivo, agora o material humano oferece conforto para dar um passo a mais. Cenas para os próximos capítulos. Mais alternativas, mais responsabilidade para Pepa. Mãos à obra.