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O uso exponencial do cigarro eletrônico

O que precisamos ter em mente antes de considerar o uso do vape como uma alternativa segura ao uso do cigarro convencional. Será mesmo que isso é verdade


Ana Luiza Prates

Entretenimento

Psiquiatra, especialista em Dependência química, Psicoterapia cognitivo comportamental , Neurociências, Mindfulness e Psicologia Positiva. Professora e Idealizadora do Curso de Saúde emocional da mulher. Colunista do Rádio Cast.


A dependência ao cigarro é um problema grave que atinge milhões de pessoas em todo o mundo. O tabagismo é considerado uma das principais causas de morte evitáveis e está relacionado a diversas doenças como câncer, doenças cardiovasculares e pulmonares.

 Segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), a cada ano 6 milhões de pessoas morrem em decorrência do tabagismo e, se ações não forem implementadas a partir de agora, em 2030 o número de mortes anuais devido ao uso do cigarro ultrapassará a marca de 8 milhões. No final deste século, 1 bilhão de pessoas terá morrido!

 Com a crescente conscientização da população em relação aos malefícios à saúde causados pelo cigarro, a indústria do tabaco procura diversificar seus produtos. Segundo a American Cancer Society, entre 2000 e 2010, houve um crescimento de 59% nas vendas dos diversos produtos derivados do tabaco que não produzem fumaça. As empresas de tabaco estão cada vez mais interessadas nos DEF, conhecidos como cigarros eletrônicos, como alternativa à redução de danos causados à venda de cigarros comuns.

 O uso do cigarro eletrônico, também conhecido como “vaping”, tem se tornado cada vez mais popular em muitos países do mundo. Segundo dados epidemiológicos, estimativas sugerem que mais de 60 milhões de pessoas utilizam esses dispositivos em todo o mundo. 

 Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), e-cig, pod ou simplesmente cigarros eletrônicos, são aparelhos criados com o objetivo de substituir o cigarro convencional. Possuem diferentes formatos (podem ser parecidos com cigarros, canetas, pen drives, etc). Todos funcionam com uma bateria que aquece um líquido, um bastão de tabaco ou ervas secas. A solução líquida, ou e-líquido, geralmente contém propilenoglicol e ou glicerina vegetal, além de aromatizantes e, na maioria das vezes, a nicotina, responsável pela dependência ao hábito de fumar.

Quando o usuário aciona o dispositivo, a bateria aquece o atomizador, que vaporiza a substância líquida presente no cartucho, isso é, o líquido se torna vapor e é então inalado pelo usuário, proporcionando uma experiência semelhante à do cigarro convencional. O usuário pode inclusive controlar a quantidade de vapor produzida pelo dispositivo, ajustando a potência ou a tensão da bateria.

 A temperatura que aquece os e-liquids é suficientemente elevada para induzir reações químicas e mudanças físicas nesses compostos formando outras substâncias potencialmente tóxicas. Tanto os solventes com glicerina quanto os com propilenoglicol demonstraram decompor-se a altas temperaturas, gerando compostos como o formaldeído, o acetaldeído, a acroleína e a acetona.

 O Propilenoglicol, por exemplo, quando serve de diluente para a nicotina libera formaldeído em concentração de 5 a 15 vezes maior que nos cigarros comuns. Essa substância, por ser irritante do trato respiratório, desencadeia tosse e obstrução das vias respiratórias em não asmáticos, e, quando da sua inalação de forma repetida em ambientes industriais, pode afetar o baço e o SNC, desencadeando alterações até mesmo no comportamento. Quando aquecido e vaporizado, pode formar o óxido de propileno, uma substância com ação possivelmente carcinogênica. Portanto, essas substâncias são classificadas como citotóxicas, carcinogênicas, irritantes, causadoras do enfisema pulmonar e de dermatite.

 De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças nos Estados Unidos, em 2019, foram relatados mais de 2.800 casos de doenças pulmonares associadas ao vaping- o que ficou conhecido como EVALI-,  incluindo 68 mortes. O mais preocupante é que a maioria desses casos ocorreu em pessoas jovens, com menos de 25 anos de idade.

 Estudos já demonstraram que o cigarro eletrônico aumenta o risco de infarto agudo do miocárdio e de doenças respiratórias e pulmonares, como a asma.

 O cigarro eletrônico não é um produto inócuo, tem substâncias cancerígenas e aditivos com sabores, com efeitos tóxicos ainda desconhecidos sobre a saúde (INCA). Além disso, o uso de cigarro eletrônico aumenta em cerca de três a quatro vezes as chances do usuário também usar cigarros comuns.

 Por fim, a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa: RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. Essa decisão se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência ainda de dados científicos que comprovassem as alegações atribuídas a esses produtos.

 A indústria do cigarro é poderosa e está sempre em busca de novos consumidores. Se você é um deles, ou se conhece alguém que fume, saiba que há inúmeras alternativas medicamentosas e comportamentais de se livrar dessa dependência e de usufruir de sua vida por muito mais tempo e, o melhor, com uma qualidade de vida imensamente superior.

Cuide-se!

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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