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Imagem: Pixabay

Quer defender um pênalti? Fique no meio do gol!

Um guia prático para enfrentar momentos difíceis com seus investimentos


Samuel Barbi

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Especialista em economia, entra ao ar às segundas-feiras com a coluna MundoZFundos, no RádioCast 98


Futebol e investimentos tem tudo a ver. James Montier, em seu livro “The Little Book of Behavioural Investing”, dá mais uma prova concreta dessa relação. O autor comenta sobre um estudo que analisou 311 cobranças de pênaltis de diversos campeonatos pelo mundo e as conclusões são muito interessantes:


●    As cobranças são igualmente distribuídas entre canto direito, esquerdo e centro;

●    Em 94% das cobranças, os goleiros pulavam para os cantos direito ou esquerdo, defendendo menos de 20% das penalidades;

●    Apenas em 6% dos pênaltis, os goleiros permaneciam no centro do gol, nesses casos, defendendo cerca de 60% chutes.

Quando questionados sobre a decisão de pular ou não para tentar defender, a resposta dos goleiros foi similar: “Não posso ficar parado olhando a bola entrar no gol, sinto que tenho que fazer alguma coisa.” A isso chamamos viés de ação.

Nos últimos 12 meses a bolsa brasileira já caiu mais de 22% e a inflação medida pelo IPCA está acima de dois dígitos, somando 11,73% no período. As taxas de juros estão decolando e ultrapassando as expectativas para o ano, tendo saído de 2% no princípio de 2021 para 13,25% na semana passada. As condições econômicas desfavoráveis fazem com que o investidor se sinta como Victor aguardando a cobrança de Riascos. Parece que o sonho da Libertadores vai ruir, dentro de casa, aos 48 minutos do segundo tempo. Pular ou não pular: eis a questão.

Muitas vezes nos sentimos assim quando se trata de nossos investimentos. Nosso cérebro nos impele a agir, afinal, parece que está tudo dando errado, então seria necessário tomar enérgicas decisões para estancar a sangria. É nesses momentos que muitos decidem pular fora, vender suas posições, realizando prejuízos e jurando jamais retornar à bolsa de valores.

Montier cita que psicólogos comprovaram, também usando o futebol, que o viés de ação se acentua com as perdas. O experimento fala sobre dois técnicos que perderam suas partidas iniciais de um campeonato por 4 a 0. Para o jogo seguinte, um dos técnicos manteve a escalação e o outro trocou três jogadores. Ambos os times perderam os jogos subsequentes por 3 a 0. Esse cenário foi explicado para alguns entrevistados de forma distinta:


●    Grupo 1: Receberam todas as informações do parágrafo acima;

●    Grupo 2: Não sabiam o resultado da primeira partida, apenas tinham conhecimento das decisões tomadas pelos técnicos para o segundo jogo;

●    Grupo 3: Foi informado que os times haviam vencido a partida inicial, bem como sobre as decisões dos técnicos e o resultado da última partida.


Os resultados são impressionantes: 70% das pessoas do Grupo 1 responderam que o técnico que não realizou substituições se sentiria mais culpado pela segunda derrota. No Grupo 3, 90% dos respondentes acreditava que o técnico que realizou as mudanças se sentiria culpado pelo resultado do segundo jogo. Isto é:


●    1º Jogo Perdeu -> 2º Jogo Perdeu: Se NÃO fez alteração se sente culpado.

●    1º Jogo: Ganhou -> 2º Jogo: Perdeu: Se fez alteração se sente culpado;


Resumindo a história, nosso cérebro e as pessoas ao nosso redor exigem ações face a resultados negativos, o que pode não ser a melhor decisão no campo financeiro. Se você é um investidor de valor com foco no médio/longo prazo, suas posições são equilibradas, amparadas em fortes fundamentos, nesse sentido, você tem confiança na escalação de seu time de investimentos. Não interessa a pressão popular, o medo que apavora a torcida, mantenha a estratégia e tome a decisão mais corajosa.


“Ficar no meio do gol” significa respeitar sempre a tríade tática: 1) gaste menos que receba; 2) invista bem e todos os meses; 3) busque formas alternativas de ganhar mais dinheiro. Em tempos difíceis como o que vivemos, o mercado entra em promoção, o que potencializa em muito a multiplicação do seu capital no futuro. Ficar no meio do gol pode significar sua canonização - “La canhota de Dios” - que será lembrada pelas próximas gerações como uma jogada de mestre.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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